PROCUREI POR RHUDAN no pátio de treinos do palácio na manhã seguinte ao banquete. Era bem cedo, de modo que os únicos a circularem livremente eram os servos. Mais cedo, quebrei o meu jejum sozinha no meu quarto, então me vesti e saí para explorar o palácio. Era uma manhã ensolarada e quente em Sharantis, e o palácio real fervilhava com cores e sons.
Demorei-me mais do que deveria com a minha exploração, mas tudo era tão diferente e novo para mim. Os costumes do povo de Éberus me intrigavam. Por exemplo, era comum que as pessoas presenteassem outras - mesmo estranhos - com pequenas moedas de ferro como uma tentativa de estabelecer uma relação mais próxima. Descobri isso quando uma das servas me ofereceu algumas pela manhã, desculpando-se pela quebra de protocolo e alegando que o fazia porque admirava grandemente o meu povo e que as moedas me trariam boa sorte com a minha estadia no reino. Aceitei seu presente generoso com um sorriso e lhe ofereci a benção das minhas deusas como agradecimento.
Outro costume interessante era usar adereços de ferro para prender os cabelos. De onde eu vinha, usavam-se joias como grampos de ouro com gemas engastadas, tiaras com grandes esmeraldas ou safiras. Mas aqui o ferro era o único ornamento que as mulheres usavam para se embelezar. Deveria ter percebido isso no outro dia pela coroa que a própria rainha de todo o reino usava sobre a cabeça: não era extravagante ou luxuosa e nem feita de ouro ou prata, mas fora forjada de um elemento que visava representar força e robustez como o aço cromado.
Uma vez que encontrei o pátio de treinos, deparei-me com Rhudan instruindo e treinando alguns jovens soldados que sonhavam integrar a guarda real que ele comandava. Como esperançava me exercitar um pouco, tinha me vestido com uma camisa de linho leve com um corselete de couro por cima, um par de calças e botas confortáveis. Também prendi meus cabelos numa trança apertada e fui ao encontro de Rhudan muito disposta a aceitar o seu convite gentil para me unir a ele no treinamento matinal dos novos recrutas.
Não me aproximei num primeiro momento, preferindo assisti-lo interagir com os jovens soldados. Rhudan era paciente a atencioso como instrutor. Com uma espada de treino, sem gume, mostrava a forma correta de segurá-la e de movê-la para se conseguir um corte limpo, dobrando e esticando o braço no ângulo certo.
Depois de um tempo, ele me notou ali e interrompeu a sua aula para vir até mim com um sorriso.
- Então você realmente apareceu, Alteza - cumprimentou-me.
- Eu levei a sua proposta a sério - comentei e então acrescentei rapidamente para não soar pretenciosa demais: - Contanto que não se importe e que a minha presença não te atrapalhe, é claro.
- De forma alguma - Rhudan garantiu-me e em seguida me convidou para que eu me juntasse a ele nos treinos.
Aproximei-me de modo comedido, sentindo os olhares dos jovens recrutas sobre mim, decerto curiosos a meu respeito. Sem que pretendesse, envaideci-me ante a possibilidade de me exibir um pouco diante daqueles soldados. Rhudan apanhou uma segunda espada de treino e a atirou para mim.
- Talvez queira começar por um dos meus homens - ele sugeriu, indicando para a fileira de rapazes.
Sorrindo, balancei a cabeça e experimentei girar a espada no meu punho. Então a apontei para o capitão da guarda, que soergueu as sobrancelhas. Percebi que estava dividido entre a descrença e a lisonjaria.
- Deseja treinar comigo, Alteza?
- Já faz algum tempo que não me exercito e gostaria de um bom desafio para voltar a treinar - expliquei-me com um dar de ombros.
Rhudan mostrou-me os dentes num sorriso amplo.
- Muito bem, Alteza - concordou, adotando uma postura mais séria. - Será como desejar.
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Nysa - A Mensageira de Torandhur
FantasíaSequência de Nysa - A Campeã de Asther SPOILERS DO PRIMEIRO LIVRO Nysa sobreviveu às sangrentas arenas da cidade de Théocras e triunfou como a sua campeã. Graças a isso, atingiu o objetivo pelo qual lutou durante anos e conseguiu libertar a sua mãe...