Capítulo Quatro: Poder e Maldição

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CAVALGAMOS ATRAVÉS DA passagem com nossas montarias resfolegando, os cascos retumbando no solo e uma chuva de flechas caindo sobre nós. Cascalhos rolavam garganta abaixo quando o bando trocava de posição lá em cima, armando seus arcos e disparando incansavelmente contra nós.

Zyora foi à frente, com Mahira e eu no seu encalço. Bati meus calcanhares nos flancos de Vento Prateado, ordenando-a a correr mais rápido. Se não saíssemos do alcance das flechas — e depressa —, estaríamos em grandes apuros. Uma flecha passou zunindo ao lado da minha cabeça. Eu me curvei sobre a sela quando Vento Prateado disparou pelo canal estreito, fazendo jus ao seu nome.

Mesmo curvada, olhei para trás e para cima, para os nossos perseguidores. Vi de relance mais deles retesarem seus arcos com mais uma saraivada de flechas prontas para ser disparadas. Trinquei os dentes e aguardei até que disparassem todas. Então apartei os lábios e chamei pelas chamas destrutivas de Sóen para que nos socorressem.

Annay'ah Iri'elai durafelgar'd. (Queime o fogo dos profanos).

As chamas azuis responderam ao meu chamado num piscar de olhos, explodindo em grandes e quentes labaredas bem acima de nós e de nossos cavalos. Espalharam-se por toda a garganta e escalaram os rochedos com uma agilidade sobrenatural e reptiliana, chegando ao ponto de alcançar as bordas rochosas e de assustar os saqueadores, forçando-os a recuar momentaneamente. Ainda engolfaram as flechas que foram atiradas e as destruíram, devorando-as vorazmente e transformando-as em nada mais do que cinzas. Quando me endireitei na sela, olhando para frente outra vez, vi que Zyora me fitava e que me agradecia pela atitude.

Com as minhas chamas extintas, não foram os arqueiros que voltaram a nos atacar, mas sim guerreiros munidos de espadas, lanças, escudos, machadinhas, e facas. Eles desciam o desfiladeiro com cordas atadas às cinturas, galgando as rochas com extrema agilidade e saltando nos momentos certos para tentar nos interceptar. Além disso, vestiam roupas coloridas sob as peças descombinadas de armaduras que usavam, sem dúvida resultados de outras caravanas de viajantes que saquearam.

— Estão vindo!

Alertei Mahira e Zyora, que imediatamente encantou sua cimitarra com fogo, acelerou sua égua e fê-la correr rente ao paredão rochoso. Ela ergueu o braço da espada e resvalou a lâmina ao longo do abdome de um saqueador que descia com uma corda atada à cintura, abatendo-o no ato. Também desembainhei a minha espada e a encantei com fogo profano, segurando nas rédeas de Vento Prateado com apenas uma mão e guiando-a para a direita para interceptar um saqueador forte que descia pelos rochedos e se preparava para saltar para a sela do cavalo de Mahira.

Passei por ele como um relâmpago, erguendo um braço alto o bastante para balançá-lo e cortá-lo na altura do baixo-ventre. Ouvi seu gemido de dor assim como senti o sangue quente que escorreu da lâmina de minha espada para a minha mão. Mas estava acabado num instante e eu deixava seu corpo pendurado na corda que o atava para trás.

Acelerei para alcançar Mahira e Zyora, cujas montarias haviam disparado, e interceptei o castanho castrado de minha mãe no momento em que um saqueador conseguiu abordá-la, saltando da rocha para se agarrar à sela dela com uma agilidade quase sobre-humana. Desesperei-me, instando Vento Prateado a correr mais depressa e emparelhando-a com o outro animal justo quando o saqueador conseguiu subir na sua sela. Vi de relance o brilho da lâmina de uma faca em uma das suas mãos e agi movida tão somente pelos meus instintos ao enfrentá-lo, balançando meu braço com espada para acertá-lo e derrubá-lo da sela.

Ele conseguiu se desviar ao se jogar para o lado oposto, mal conseguindo se agarrar à sela e Mahira o surpreendeu ao se virar para agarrar a parte da frente do peitoral que ele usava, puxando-o para frente num momento de distração e gritando por mim. Estoquei-o com a minha espada em chamas sem demora, perfurando seu peito. O homem fez pouco mais do que grunhir antes de tombar da sela e rolar na terra.

Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora