Nysa - A Mensageira de Torandhur

Capítulo Trinta e Três: Uhri e Lenna

NÃO ME ORGULHEI DO QUE FIZ. Mas segui Sarghan depois que a peça terminou, acompanhando-o à distância enquanto montava no grande garanhão negro que o aguardava do lado de fora: um rei em todos os aspectos.

Cercado pela guarda real, que era liderada por ninguém menos do que o capitão Uhrias, ele foi escoltado para as ruas de Théocras com uma multidão no seu rastro. A coroa dourada com engaste de rubis sobre a sua cabeça era como um segundo sol e ofuscava todo o restante. Sarghan sorria e acenava para as pessoas o tempo todo, tendo o cuidado de permitir que o seu povo se aproximasse e o visse.

Esgueirei-me entre a multidão, mantendo-me sempre fora de vista e longe do campo de visão dele e do capitão Uhrias, por vezes usando outras pessoas como escudo para me manter invisível aos olhos deles. Era o mais próximo que me permitia chegar de Sarghan. Não ousaria me arriscar mais do que contemplá-lo a uma distância segura. Afinal, ainda não era o momento certo para que nos encontrássemos.

Então, assisti-o percorrer as ruas empoeiradas de Théocras de cima do dorso do cavalo enquanto era reverenciado e aclamado pelo povo que o louvava e o amava. O sol do meio-dia brilhava muito intensamente e havia um fluxo ainda maior de pessoas nas ruas de modo que os soldados da guarda real precisaram ser incisivos ao abrir caminho para a passagem do rei.

Mais cedo, a Dama Thalyssa — que já não se locomovia com facilidade devido à gravidez avançada — havia sido conduzida para uma liteira, as cortinas cerradas depois que ela subiu, e levada de volta ao palácio sob uma forte escolta. Vi como as pessoas se deslumbravam com a beleza e gentileza dela.

Muito depois que ela partiu, ouvi duas mulheres comentarem atrás de mim:

— A Dama Thalyssa será uma rainha maravilhosa para Asther. Nunca vi moça mais bela nem tão caridosa para com o povo. E viu como tem modos refinados e elegantes?!

— De fato, de fato — concordou a outra. — E para completar agora ela carrega o primogênito do rei. Sem dúvida será uma união abençoada pelos deuses. O rei Sarghan não poderia pedir por uma esposa melhor.

— Mal posso esperar pelo casamento! — completou a primeira mulher. — Espero que façam uma celebração tão grandiosa quanto o casamento do rei Jarghan com a rainha Aynanis. Ah, eu me lembro dos dias de festa que tivemos na capital naquela ocasião! O rei Jarghan era tão viril naquela época. E a rainha Aynanis, uma verdadeira beldade. Mas dizem que a gravidez da Dama Thalyssa é delicada, por isso inspira cuidados e o casamento foi adiado até o nascimento da criança.

Espiei por cima do ombro a tempo de ver o rosto franzido como uma ameixa seca de uma delas. Usavam longos lenços sobre a cabeça para se proteger do sol forte, como eu.

— Eles realmente inverteram a ordem dos acontecimentos. — Havia um toque de censura na voz da segunda mulher. — Mas acredito que serão muito felizes e trarão ainda mais prosperidade para Asther. Além do mais, o nascimento dessa criança trará mais estabilidade ao reinado do nosso jovem rei.

— Espero que seja um menino! — comentou a outra com mais empolgação enquanto engatava a segunda mulher em outro tipo de conversa.

Afastei-me delas depois disso. Não suportaria ouvir mais uma palavra sequer do que dissessem. Precisava me recuperar depois de ter visto Sarghan e Thalyssa juntos, e eu não estava gostando dos sentimentos ruins que tentavam me dominar. Não me permitiria sentir ressentimento, ciúme ou inveja. Mas tentar dizer ao meu tolo coração que ele não deveria alimentar aquelas emoções era inútil. Então, eu me afundei em autocomiseração.

Vaguei pelo mercado de Théocras enquanto comerciantes me abordavam e tentavam me vender de tudo um pouco. Mantive uma mão alerta sobre a bolsa que trazia comigo, ciente dos pequenos e jovens ladrões que costumavam agir nessa região da cidade — eu mesma havia me juntado a eles em algumas ocasiões, e a ousadia, mais tarde, me custara uma surra de Kalak quando ele descobriu as moedas sob o meu colchão fino.