Capítulo Cinquenta e Dois: O Fardo do Amor

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RILGA E NIHARA VIERAM ME ACORDAR e me ajudar a me vestir no mesmo horário de sempre. Surpreendentemente elas me encontraram já de pé e completamente vestida com um vestido leve. Havia me limpado sozinha e eliminado todos os vestígios que Sarghan deixara entre as minhas pernas antes que elas chegassem. Não arriscaria permitir que vissem as marcas deixadas no meu corpo. Algumas, como mordidas próximas aos meus seios, ainda tão vívidas contra a minha pele que evocavam lembranças do que vivi com ele. Não seria difícil deduzir o que as haviam causado e eu evitaria as fofocas até o último instante.

Nihara contentou-se em arrumar apenas o meu cabelo naquela manhã, trançando-o em um penteado elaborado, enquanto Rilga ajudava Penalyp a servir o desjejum meticulosamente preparado por Syllane. Tê-las como companhia estava se tornando um hábito que amenizava o meu sentimento de solidão e de isolamento. Passei tanto tempo afastando as pessoas e me fechando para o mundo que ter a amizade de todas elas me causava um sentimento revigorante.

— Tudo pronto aqui — Nihara declarou, encarando-me a partir do reflexo do espelho na penteadeira.

Admirei seu trabalho e anuí, aprovando. Levantei-me e fui até o cômodo adjacente para comer o desjejum. Sentei-me à mesa e comecei a comer, partindo os pedaços de um pão com um sorriso leve.

— Ora, por que está tão sorridente esta manhã, moça? — Syllane indagou, atraindo o meu olhar para a sua expressão especuladora. — Nunca te vi de tão bom humor tão cedo.

— Eu disse que ela parece diferente hoje! — Penalyp concordou depois de servir meu cálice com leite adoçado com mel. — Até parece que engoliu o sol de tão radiante!

— É só impressão de vocês — desconversei, enfiando um pedaço de pão na boca para me impedir de continuar sorrindo.

— Sei — Syllane murmurou ressabiada.

— Deixem-na em paz — Rilga ralhou e me lançou uma piscadela, mas eu percebi que ela também ria. — Nysa deve ter tido apenas uma boa noite de sono eu aposto.

— Uma noite excelente — concordei a fim de abafar os mexericos em volta da mesa.

— Você diz isso porque não recebeu orientações bastante específicas do copeiro do rei para que me atentasse mais às refeições dela. O atrevido só faltou me chamar de desleixada e de deixá-la passar fome. — Syllane voltou-se para mim. — O que você fez ou falou para dar a impressão ao rei de que não presto atenção às refeições que te sirvo?

Engoli em seco. Sarghan havia agido então para reforçar as recomendações repassadas à Syllane para cuidar das minhas refeições. Eu sabia que a minha confissão na noite anterior o havia perturbado. Mais do que isso: ele havia visto e tocado as provas de que eu vivi um período sombrio em Torandhur e queria que eu me recuperasse o mais breve possível. A lembrança dos meus ossos salientes e da minha pele fina e frágil repuxada sobre eles ainda me assombrava.

Para tranquilizá-los — tanto Syllane quanto Sarghan — esforcei-me para comer um pouco mais, saboreando a comida devagar. Depois de terminar aleguei que caminharia um pouco pelo palácio. Rilga e Nihara me seguiram, prontas para me atender a qualquer momento.

Dirigi-me até um dos jardins magnifícos do palácio, disposta a aproveitar um pouco da manhã agradável. Não tinha esperanças de encontrar Sarghan, pois sabia que ele estaria ocupado com assuntos do reino. Então, tive a ideia de explorar o labirinto de cercas-vivas pelo qual nos aventuramos uma vez e a encontrei exatamente no local onde ele a havia me apresentado quase um ano antes: a estátua de Bashir e Meriath, o presente que ele havia me dado. Unidas costas com costas, portando a espada e a balança da justiça; belas e intimidantemente esculpidas em pedra.

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⏰ Última atualização: May 30 ⏰

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Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora