Capítulo Dezesseis: Verdades Amargas

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PROCUREI POR DELAILA NO dia seguinte. Estava aflita por respostas e mal tinha pregado os olhos na noite anterior, remexendo-me na cama sem conseguir encontrar descanso ou aquietar meus pensamentos. As palavras de Byriel suscitaram em mim dúvidas perturbadoras demais que estavam relacionadas ao passado de Mahira. Eu não sabia quase nada sobre a minha própria mãe e sentia que tinha que remediar isso o mais depressa possível.

Ao mesmo tempo, algo me segurara de procurar as respostas imediatamente. Um receio de que, ao fazê-lo, eu estivesse caindo em uma armadilha orquestrada por ela e por Byriel para terminar concordando com os jogos sórdidos de Mahira, embora não acreditasse que ela pudesse usar um artifício tão sujo quanto a minha compaixão para me trazer para o seu lado outra vez.

Por isso, decidi que procurar Delaila seria a atitude mais sensata a se tomar. Ela não gostava de Mahira e jamais mentiu para mim. Sabia que podia contar com nada mais do que a verdade se procurasse por ela. Assim, fui até a ala dos criados e bati à porta do seu quarto. Ouvi um "entre" que foi abafado pela madeira, e girei a maçaneta, abrindo a porta. Delaila estava sentada à mesa como da última vez, mas remendava algumas peças de roupa com linha e agulha, trabalhando com precisão e agilidade para fechar os buracos no tecido.

— Nysa, mas que surpresa! — cumprimentou-me com um sorriso.

Entrei e fechei a porta. Se Delaila não estava me tratando com indiferença, então talvez Samier não houvesse lhe contado o que houve na praia há algumas noites. Melhor assim, eu me convenci enquanto avançava pelo cômodo até ela. Puxei a cadeira diante dela e sentei.

— Samier não está aqui agora. Está nos estábulos com Ghemar — ela me informou com um erguer das sobrancelhas castanhas, sem desviar o foco da roupa que remendava.

— Sim, eu sei — murmurei. — Mas preciso falar com você. É importante — acrescentei com relutância.

Delaila ergueu o rosto do seu trabalho por um momento, surpresa.

— Ora, é mesmo? E como eu posso te ajudar?

Apoiei os braços sobre a mesa que nos separava e ponderei a melhor forma de iniciar aquele assunto. A verdade é que isso não existia. Eu teria de ser direta. Por isso umedeci meus lábios e confessei a razão de ter vindo até ali.

— Delaila, preciso que me conte tudo o que sabe sobre o passado de Mahira.

Ela enrijeceu e ergueu os olhos para o meu rosto com uma expressão pasmada. Pela primeira vez, colocou o remendado no qual trabalhava de lado, sobre a mesa, e suspirou longamente, um gesto que não me escapou. Apertei meus lábios, mas não retirei meu pedido.

— Nysa, o passado da Mahira... Eu não sou a pessoa mais indicada para... — ela murmurou, incerta, quase tropeçando nas palavras. — Bom, talvez isso seja algo que você deva perguntar para ela própria. Eu não sei se deveria...

— Por favor, Delaila! — insisti, estendendo as minhas mãos para cobrir as delas, que repousavam sobre o seu colo. — Eu preciso entender quem realmente é a minha mãe, por que ela se tornou essa mulher que é hoje. Talvez se eu puder compreendê-la, mesmo que seja um pouco... — interrompi-me, deixando as palavras suspensas entre nós.

Os olhos amendoados de Delaila se estreitaram, perscrutando meu rosto atrás de qualquer indício de dúvida ou de incerteza da minha parte. Mas eu estava determinada a conseguir as respostas, de uma forma ou de outra, e ela sabia que se eu não as conseguisse aqui provavelmente procuraria em outro lugar e com outra pessoa mais inclinada a me provê-las.

— Muito bem, vou lhe contar tudo o que sei. — Ela se virou na cadeira para mim, retirou as mãos sob as minhas, e cruzou os braços sobre a mesa. — Mas talvez você deva ouvir a história da própria Mahira depois, Nysa — aconselhou-me. — Não há ninguém melhor do que ela mesma para lhe contar toda a verdade.

Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora