Capítulo Oito: Despedidas e Boas-Vindas

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UM POUCO ANTES DE ALCANÇARMOS os portões de Astradh, eu e Zyora desmontamos para nos despedirmos adequadamente uma da outra. Não sabia quando nos veríamos de novo e essa constatação me desolava. O sol tinha terminado de se por já fazia algum tempo, de modo que o restante de luz diurna esmorecia depressa. A noite vindoura se esgueirava sobre o céu em chamas como uma promessa.

Eu a fitei, em silêncio, por um longo momento antes que nos abraçássemos, um abraço apertado, um abraço de irmãs. Fechei meus olhos e apertei meu rosto contra o seu ombro enquanto embalávamos uma a outra. Senti suas mãos no meu cabelo, sob o lenço, e sua respiração regular na pele do meu pescoço.

— Tem certeza de que não quer vir conosco? Ficar em Astradh por algum tempo? — perguntei uma última vez, mantendo-a ao alcance dos meus braços quando me afastei um pouco para olhar para o seu rosto.

Zyora tocou minha face com ternura e abriu-me um pequeno sorriso.

— Sabe que não posso. Devo retornar a Aridhan agora, já fiquei longe por tempo demais. Tenho certeza de que você pode entender a minha urgência em voltar para casa.

Cobri a mão que envolvia meu rosto e fechei meus olhos mais uma vez. Sua pele estava quente, seu toque era suave. Quando abri meus olhos, pensei ter visto os olhos castanhos e profundos dela marejarem, mas a visão desapareceu tão depressa que ponderei que não passasse da minha imaginação e do meu cansaço falando mais alto. Uma brisa fria e arenosa varria toda a região, soprando o pó da terra desde o cume das montanhas até a relva meio seca e os muitos dentes-de-leão aos nossos pés.

— Obrigada por tudo, minha amiga, minha confidente, minha irmã — sussurrei-lhe a última palavra com ainda mais ternura, mas cada uma delas vinha do fundo do meu coração.

Zyora se inclinou para perto e roçou seus lábios de forma pura na minha testa. Uma despedida, de fato. Em seguida se afastou, colocando um pouco de distância entre nós duas.

— Na minha terra natal, nós não dizemos "até algum dia" — murmurou e foi o mais próximo que vi de uma expressão brincalhona no seu rosto. — Nós dizemos "Iah gahare Matuh ituul ohoran", que significa "se assim a morte permitir nos encontraremos outra vez".

— Iah gahare Matuh ituul ohoran — disse a ela, repetindo suas palavras e divertindo-a com meu sotaque e com a minha pronúncia arrastada.

Mas então seu semblante se tornou grave de novo:

— Iah gahare Matuh ituul ohoran Nysa hi — murmurou de volta para mim com o esboço de um sorriso nos lábios: — Cuide-se, serva das deusas, e mantenha-se longe do alcance do domínio do deus Esrodath.

— Tentarei.

Prometi-lhe com um sorriso e Zyora sentiu que era a sua deixa, aparentemente, pois caminhou até a sua égua e a montou agilmente, virando-a na direção pela qual tínhamos vindo. Ela me lançou um último e longo olhar antes de bater seus calcanhares na barriga do animal e sair em disparada pela planície, cavalgando noite adentro.

Perdi-a de vista muito rápido, uma sombra veloz voando para dentro de uma escuridão fria e solitária. Fechei meus olhos e rezei às deusas para que a protegessem durante a jornada até sua terra natal, Aridhan, no extremo oeste e do outro lado do mar de Eghau. Tão distante, lamentei.

Ela ficará bem, Cadius consolou-me. E o som da sua voz foi algo tão bem-vindo que eu me peguei assentindo e sorrindo tolamente. Cadius estava mais quieto do que o comum nos últimos dias, e mais taciturno e pessimista também. Agarrei-me à presença dele e me virei para montar Vento Prateado. Vamos para casa, disse a ele, que anuiu com pouco entusiasmo, como tinha se tornado costume.

Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora