ESPEREI PELO JULGAMENTO DE SARGHAN. Esperei pelo seu desprezo e pela sua repulsa. Esperei que me rechaçasse e me visse pela criatura patética que eu fora durante todo esse tempo. Uma criança tola perseguindo o que jamais seria dela.
Em vez disso, Sarghan se levantou e contornou a mesa para se aproximar das janelas abertas. Pelo visto, eu dera a ele muito sobre o que pensar; muito para digerir e para entender. Fiquei onde estava, paralisada pelo medo de ser rejeitada ainda que todo aquele receio se mostrasse infundado e injustificado.
— Como é o seu relacionamento com a sua mãe? — ele me perguntou de repente, quebrando o silêncio.
Suspirei antes de respondê-lo.
— Nunca houve um relacionamento de qualquer tipo entre nós. Mahira me abandonou assim que eu nasci e sempre me garantiu que não se arrependeu dessa decisão em nenhum momento.
— Então por que você se sacrificou por ela, Nysa?
Levantei-me também e me coloquei diante dele, as mãos cuidadosamente entrelaçadas.
— Porque para mim Mahira era uma deusa, Majestade. Ela era tudo o que eu queria alcançar. Tudo o que eu almejava. Ter o amor dela, para mim, significava mais do que qualquer outra coisa. Mais até do que servir as minhas deusas, e nisso eu reconheço o meu sacrilégio.
"Mahira era insensível, cruel e mesquinha. Em mais de uma ocasião fez comentários maldosos a meu respeito e não se importou em como eles feririam os meus sentimentos. Algumas vezes ela tentou emendar o insulto com palavras doces ou manipulações. Eu sabia o que ela era. Sabia o que ela fazia. Mas eu não podia desistir dela. Não conseguia me libertar da minha obsessão por ela. Pelo menos não até que fosse tarde demais.
— E agora você desistiu de vez? — Seu olhar cinzento me estudou por um longo momento, contemplando o meu silêncio ante a sua indagação.
— Consegui me libertar dos grilhões que me aprisionavam à Mahira — respondi-o depois de encontrar as palavras certas. — Mas não fiz isso sozinha. Tive o apoio de pessoas que me amam e que me são muito estimadas em minha terra natal.
Não mencionei que a perda de Cadius foi o grande fator responsável por abrir os meus olhos e me fazer enxergar a verdade que eu neguei por anos a fio. Perder o meu oráculo, a minha segunda alma e a minha consciência havia sido o golpe mais duro do destino até então. Porém, ao mesmo tempo, eu entendia por que as deusas me sujeitaram a essa situação. Era a única forma de me fazer acordar para a realidade.
Quando Sarghan não me respondeu de imediato eu tomei coragem para encará-lo e abordá-lo com a questão que vinha me corroendo desde a noite em que nos reencontramos e ele não me acusou de participar no assassinato do antigo rei:
— Majestade, gostaria de perguntar... — Engoli em seco, temerosa de prosseguir, mas ele me urgiu a ir em frente: — Acredita que tive alguma participação no assassinato do rei Jarghan?
Minha pergunta pareceu desarmá-lo. Vi um lampejo de vulnerabilidade no seu semblante, mas a emoção comprometedora tinha desaparecido antes que eu pudesse confirmar com certeza que ela o tomou.
— Por que decidiu me perguntar isso? — Sarghan me rebateu com outra questão, claramente intrigado pela minha iniciativa.
— Ouvi rumores na cidade — admiti. — Alguns parecem acreditar que causei o assassinato do rei Jarghan.
— Você acha que eu acredito nesses rumores também? — Mais uma pergunta ao invés da resposta que eu anelava.
Abaixei os olhos, embaraçada.
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Nysa - A Mensageira de Torandhur
FantasiaSequência de Nysa - A Campeã de Asther SPOILERS DO PRIMEIRO LIVRO Nysa sobreviveu às sangrentas arenas da cidade de Théocras e triunfou como a sua campeã. Graças a isso, atingiu o objetivo pelo qual lutou durante anos e conseguiu libertar a sua mãe...