Capítulo Quarenta e Nove: Conselho de Guerra

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RILGA E NIHARA ME ARRUMARAM PARA A REUNIÃO com o Conselho de Sarghan na noite seguinte. Prepararam o meu banho e ajudaram-me a me lavar. Então, vestiram-me em um dos vestidos mais bonitos e elegantes que eu já usei: de musselina branca com um corpete bordado que marcava a cintura, um decote bem abaixo dos meus seios de modo a deixar todo o meu colo à mostra e mangas largas transparentes e diáfanas tão longas que arrastavam no chão.

Junto ao bordado em dourado do corpete, dezenas de pedras brilhantes haviam sido costuradas. Um trabalho extremamente delicado feito por costureiras muito habilidosas. Passei as pontas dos dedos pelas pedras minúsculas e brilhantes e suspirei. Era de tirar o fôlego.

Para o meu cabelo, elas inovaram e transformaram duas tranças grossas em um coque baixo, prendendo-o com uma infinidade de grampos cuja função era manter todo o penteado no lugar. Não usaria nenhuma joia ou adereço naquela noite, mas a ausência não faria diferença. O vestido em si já era luxuoso o bastante, uma peça única costurada para chamar atenção.

Já pronta, conferi a minha aparência no reflexo do espelho. Rilga e Nihara pareciam orgulhosas do resultado de tanto empenho em me arrumar. Nihara alisou a saia do vestido de modo a remover qualquer amassado do tecido.

— Acho que nunca vi nada tão lindo em toda a minha vida — Nihara suspirou enquanto me estudava, procurando por qualquer fio descosturado ou pedra brilhante do bordado que estivesse fora do seu lugar.

— Sou forçada a concordar com você dessa vez — Rilga anuiu enquanto conferia o meu cabelo, ajeitando pela última vez as únicas duas mechas soltas que emolduravam o meu rosto.

— Parece uma princesa a caminho do casamento! — Nihara exclamou empolgada.

— Não sou uma princesa nem estou me casando hoje — declarei, mas amoleci assim que vi os olhos grandes e brilhantes de Nihara. Suspirei. — A única coisa que pretendo discutir nessa reunião com o Conselho do rei é guerra, Nihara. Acredite em mim não haverá nada de romântico nisso.

Olhei pela janela e vi a lua alta no céu. Tudo seria decidido naquela noite; eu tinha que estar pronta para ajudar Sarghan e os seus ministros a lidar com Mahira da melhor maneira possível. Seria uma reunião longa e provavelmente bastante exaustiva.

Alguém bateu à porta e Nihara foi atender. Ela retornou avisando que os soldados responsáveis por me levar até o rei haviam chegado. Depois de conferir a minha aparência no espelho uma última vez, despedi-me das duas e pedi que me desejassem boa sorte. O futuro de Asther dependia do resultado daquela reunião.

Acompanhei os soldados pelo palácio até um grande salão onde Sarghan me aguardava. Passei pelas portas abertas e assim que os seus olhos me encontraram senti o tempo desacelerar. Ou talvez os meus pés que estivessem se movendo mais devagar, prolongando o momento.

Olhei nos olhos dele e vi, primeiro, a sua surpresa. Seguido pelo seu desejo. Minha pulsação acelerou sob a intensidade do seu olhar, bebendo-me ou devorando-me. Saber que ele ainda me desejava não amenizou a dor surda que eu sentia desde a promessa que fiz à Thalyssa no dia anterior. Mas havia uma parte de mim que se regozijou com a constatação. Talvez eu fosse masoquista, afinal.

Alcancei-o sem que lhe tivesse dito palavra alguma, mesmo que a etiqueta demandasse um singelo cumprimento ao menos. Estava presa demais aos olhos deles que continuavam a me fitar de tal maneira que até me sentia atordoada.

— Você está... linda. — Foram as primeiras palavras que ouvi da boca dele, ditas sem fôlego.

Averti os olhos pela primeira vez para esconder o quanto o seu elogio havia mexido comigo. Assenti, mas não o agradeci. Quando o silêncio se aprofundou entre nós, Sarghan me chamou para que eu o acompanhasse. Segui-o com os guardas no nosso encalço. Percorremos um corredor e acabamos na sala de reuniões para onde ele me levou no dia em que tive a minha primeira audiência com o rei.

Nysa - A Mensageira de TorandhurOnde histórias criam vida. Descubra agora