POV Gabriel
-Agora vamos pra sua escola, pequeno. Você não pode ficar sem ir. - A Mommy diz, me olhando pelo retrovisor e eu solto um suspiro pesado. Não quero ter que voltar naquele lugar! - Hey, tem alguma coisa que queira me contar? - Ela pergunta se virando para o banco traseiro, onde estou sentado. - Eles te tratam bem?
-Ninguém sabi du Biel, só sabi da...
-Tudo bem, carinha. Eu vou cuidar disso. Eles vão conhecer o Gabriel e te chamar de Gabriel! - Ela diz dando uma piscadinha para mim e eu sorrio junto com ela automáticamente.
Logo ela começa a virar aqui e ali a caminho da minha escola e, cada metro a menos, é um frio a mais na barriga. Quando ela finalmente para, vejo o pátio cheio de pessoas que logam viram seus olhos curiosos para saber que carro é aquele. Mesmo contra minha vontade, entrego minha chupeta para Mommy, que a guarda.
Ela é a primeira a sair do carro e todos meninos e meninas ficam de olhos arregalados ao repararem na minha Mommy toda de badgirl, vestida de preto, com coturnos e óculos escuros que, quando ela tira, faz com que seus olhos claros fiquem em evidência.
Em seguida, bem menos confiante que ela, eu saio do carro e, como a criança que eu sou, 'corro' para seus braços. 'Corro' modo de dizer, já que ela está a menos de 1 metro de mim. Eu coloco um braço em sua cintura, querendo que parem de olhar para MINHA Mommy. MINHA Mommy e da Toni. Só nossa! Ela, alheia aos olhares famintos, passa seu braço sobre meus ombros e nos guia para dentro da escola.
Ela pede que eu a leve até a sala do diretor e, para isso, precisamos passar por vários corredores e, a cada passo, é um novo olhar que minha Mommy recebe. Querendo tirar ela do meio daqueles lobos logo, acelero o passo, enquanto trinco o maxilar.
Finalmente chegamos até a sala do diretor e, agora, me agarro a ela por medo do que vai acontecer quando entrarmos naquela sala. Notando meu nervosismo, ela começa a fazer carinho nos meus cabelos, agora curtos.
-Vai ficar tudo bem. - Ela sussurra baixo, para moça, que está a nossa frente falando com a secretária, não nos ouça. Um pouco mais tranquilo, mas não muito, eu aceno em concordância. Quando chega nossa vez, ela pede educadamente para falar com o diretor Senhor Levine. Após alguns momentos, nossa entrada na sala do diretor é autorizada e, pela primeira vez, vejo ele de perto e ele é bem mais novo que eu imaginava.
Sim, primeira vez. Eu sempre tentei ao máximo não chamar atenção e isso inclui não fazer nada que possa me levar para a diretoria ou me destacar demais em alguma matéria. Sempre preferi ser um aluno padrão, sem nada demais. O mais desinteressante possível.
-Srta. Blossom, bom dia. - Ele diz educadamente.
-Bom dia, Senhor Levine. - Cheryl responde no mesmo tom.
-Me chame de 'Adam' apenas. - Ela sorri, se sentando em sua cadeira.
-Então, me chame de Cheryl. - Ela diz simpática, se sentando na cadeira de frente para ele e me indicando a cadeira ao seu lado.
-Tudo bem, Cheryl. Quem é esse rapaz? - Pergunta simpático. - Você parece bem nova pra ter um filho desse tamanho. - Vai parecer besteira, eu sei, mas a alegria que eu senti só por ele ter me tratado no masculino... Cara, não dá nem para explicar!
-O Gabriel não é meu filho. - Cheryl sorri. - Não biologicamente, pelo menos. - E por causa dele que eu vim aqui hoje falar com você e eu realmente espero sua compreensão. - Ele se posiciona melhor na cadeira e faz um aceno para ela prosseguir. - Ele já estuda aqui, está registrado aqui com o nome de Caroline Adams. - Ele arqueia as sobrancelhas confuso. - Ele é transgênero. - E ele faz um aceno de entendimento. - Ele morava com os pais biológicos, mas, quando descobriram sua identidade de gênero, tiveram uma reação bastante ruim. - Ele fecha sua expressão, adotando uma postura mais séria. - E, por acaso, ele acabou atravessando meu caminho e eu resolvi cuidar dele, já que ele não tinha pra onde ir. - Ele alterna rapidamente o olhar entre nós dois. - E, como eu estou com ele agora, eu acho importante que, mesmo com tudo isso, ele não se afaste da escola. Por isso, eu vim aqui saber se ele continuar aqui, ele vai ser respeitado como Gabriel ou se vou precisar encontrar outra escola para ele. - Ok, eu não esperava essa última parte. Esperava menos ainda o sorriso que o Senhor Levine nos dá.
-Primeiro: Parabéns pela sua atitude de cuidar dele em um momento tão delicado. - É normal sentir essa animação só por ele ter dito "dele"? - Segundo: Eu não tinha conhecimento da situação que ele estava enfrentando, ele nunca veio até mim e, pelo que você falou dos pais dele, eu compreendo o motivo. - Ele junta as mãos sobre a mesa. - O que eu posso te dizer é que eu não tolero nenhum tipo de discriminação nessa escola. Portanto, se o nome dele é Gabriel, vou tomar as medidas necessárias para adequar o registro dele internamente. Infelizmente, documentação oficial eu não consigo alterar, é um pouco mais complicado. Mas posso te assegurar que aqui somente chamarão ele de Gabriel. - Não sei bem quando começou, mas meu rosto tá todo molhado e meus olhos embaçados. - Gabriel, a única coisa que peço é que não saia da escola. Se você sofrer qualquer tipo de violência física ou verbal, me informe que eu vou tomar as medidas necessárias. Não precisa ter vergonha de me procurar. - Timidamente, eu faço um aceno com a cabeça, limpando as lágrimas do meu rosto. - Agora me diz: Qual seu nome completo.
-Carlos Gabriel Adams.
-Seu nome anterior era...
-Caroline. - Digo sem graça, ele pega o telefone e aperta alguma coisa.
-Mille, por favor, pega a pasta da aluna Caroline Adams. Obrigado.
-Adam, obrigado por essa reação.
-Eu sou pai, eu só tô agindo como eu quero que minhas filhas sejam tratadas no futuro. Se elas optarem por algo diferente, eu quero que elas sejam respeitadas. - Ele diz simples e logo ouvimos umas batidas na porta e, em seguida, a porta se abre, mostrando a Senhorita Owens. - Mille! - Ele estica a mão pegando a pasta e chama por ela antes que ela saia. - eu quero falar com você. - Ela acena confusa e fica aguardando, enquanto ele olha para mim. - Me empresta um documento seu, por favor? - Sem graça, pego minha identidade e entrego para ele. - Cabelo curto ficou muito melhor em você! - Ele diz sorrindo. - Mille, é o seguinte: Este aqui é o Gabriel, ele é aluno aqui da escola, mas ele tá com o registro dele com esse nome. - Ele mostra a pasta de papel pardo com uma etiqueta com "meu nome". - Mas ele se descobriu transgênero e o nome dele é Carlos Gabriel Adams. - Ela olha um pouco confusa. - É o primeiro caso que eu pego aqui na escola, então vai ser um pouco confuso no começo, mas eu quero que os arquivos dele sejam alterados para Carlos Gabriel, quero que repasse para todos os funcionários que ainda hoje eu quero ter uma reunião, às 5PM. - Ela acena, um pouco confusa. - E, por favor, acompanhe a senhorita Cheryl Blossom e anote o telefone dela para contato.
Nos levantamos e, quando estamos nos aproximando da porta, me viro para o diretor que está anotando alguma coisa no papel.
-Senhor Levine? - Eu chamo baixo e ele me olha curioso. - Obrigado por isso. - Ele sorri e eu me viro, saindo pela porta e me agarrando à Mommy, que conversa alguma coisa com a Senhorita Owens.
E eu só consigo pensar que, agora, eu sou o Carlos Gabriel na escola e em casa.
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LittleSpace
FanfictionCheryl, 26 anos, é uma Mommy por natureza, à procura de sua Little Girl. Toni , tem 20 anos, forçada a amadurecer muito cedo, se encanta por Cheryl, quase que imediatamente. Uma não conhece a história da outra, mas os instintos naturais são mais for...