Aquela História Que Ninguém Sabe

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POV Cheryl

-COMO ASSIM? - Betty fala alto demais, o que faz Toni se remexer na cama.

-Fala baixo, Betty! A Toni tá dormindo!

-Desculpa. Eu... Eu não fazia ideia, Cher.

-Ninguém sabia. - Digo simples e volto a dobrar algumas peças de roupas.

-Que...

-Betty, só deixa pra lá e não comenta com ninguém.

-A Toni sabe? - Murmuro uma negação. - Ela precisa saber, Cher.

-Ela vai saber quando tiver que saber.

-Mas...

-Betty, isso não está aberto a discussões! - Me viro para a baixinha, que me encara preocupada.

-Você vai ficar muito brava se eu disser que ouvi tudo? - Ouço a voz suave de Toni e a vejo sentada na cama.

-Essa é a hora que eu saio. - Betty se levanta. - Vou ver se o Gabs já acordou. - Atravessa a porta, nos deixando sozinhas.

-Há quanto tempo você tá acordada? - Pergunto, soltando a camiseta em minha sobre a poltrona e caminhando até a cama.

-Tempo o suficiente pra achar que você podia estar grávida. - Eu apenas concordo, olhando para o nada, sem saber o que dizer. Não queria que ela soubesse assim. - Muito brava? - Saio do meu transe e olho para ela, que me encara acanhada.

-Não, Tee-Tee. Você tá? - Ela me encara confusa. - Brava. Você tá brava comigo por não ter dito?

-Não, Cherry. Você ia me dizer quando estivesse pronta, tenho certeza. - Eu dou um sorriso pequeno e ela estica os braços para mim, me puxando para me acomodar no seu abraço. - -Quer conversar? - Tento pensar no que dizer, mas não preciso. Uma ânsia me ataca e sou obrigada a sair correndo para o banheiro.

Sinto as mãos de Toni segurando meus cabelos e acariciando minhas costas, enquanto eu coloco minhas tripas para fora. Quando eu consigo parar de colocar meus órgãos para fora, me levanto e vou até a pia, para escovar meus dentes novamente.

-Melhor? - Ela me pergunta sorrindo e eu aceno, nos guiando de volta para cama. Rapidamente, ela me puxa para os seus braços. - Quer conversar?

-Você não tá curiosa?

-Muito! - Eu sorrio com sua sinceridade. - Mas não quero te forçar. Eu percebi que você não tá bem pela sua voz com a Betty. - Eu respiro fundo, deixando que o ar preencha meus pulmões por completo e solto lentamente.

-Eu sempre quis ser mãe. - Eu começo e ela, ao notar que vou contar, respira fundo, sem deixar de acariciar meus cabelos. - Eu namorava a Keana na época, eu tinha 23 anos e decidimos começar uma família. Ela nunca quis engravidar, então eu que iria gerar o bebê. Fizemos tudo que precisava: exames, consultas, visitas ao banco de esperma, mais exames... Tudo estava ótimo e eu consegui engravidar. Apesar de querer espalhar para o mundo o que estávamos fazendo, preferimos manter em segredo, preparar tudo: quarto, roupas, decoração, brinquedos... Mas, com cerca de 12 ou 13 semanas, eu comecei a sangrar e... - Um bolo se forma na minha garganta e eu sou obrigada a parar de falar.

-Tudo bem, Cherry. Não precisa falar. - Ela me puxa mais contra ela, mostrando que está tudo bem.

-Eu... Quero, Toni. - Respiro fundo, antes de recomeçar. - Eu sofri um aborto espontâneo, tendo que passar por alguns procedimentos obrigatórios. Fiquei no hospital por dois dias e tive alta. Não precisava ser muito perceptivo para perceber que minha relação com ela tinha estremecido. A gente chorava muito, falava pouco. Como eu estava evitando as meninas, inventei que a gente tinha ido viajar de última hora e pronto: alguns dias sem ter que encontrar elas. - Pauso novamente, tentando me acalmar e dar tempo para ela digerir as informações, já que o pior ainda não tinha passado. - Acontece que, três dias depois ou até menos, não lembro direito, eu comecei com uma febre muito alta e uma dor abdominal muito forte. Já não chorávamos tanto, mas nos falávamos ainda menos. Ela me levou pro hospital, quando viu que minha febre e a dor não cediam. Quando fui analisada pelo médico e ele soube que eu havia sofrido um aborto recentemente, ele me encaminhou pra fazer alguns exames e descobriram que, quando fizeram a curetagem pra retirar o resto da placenta que ficou no meu útero, não tiraram tudo. Ficou um pouco ainda lá que passou despercebido pelo médico que fez a curetagem. Mas, esse pouco que ficou, acabou dando espaço pra uma bactéria, que me fez ter uma infecção no útero. - Solto um riso debochado. - Conclusão: eu tive que escolher entre perder a vida ou perder o útero. - Ela não diz nada, nem eu. Ficamos ali em silêncio e eu apenas deixo que ela assimile o que eu disse.

-E a sua ex?

-Ela terminou comigo.

-Por você não poder engravidar?

-Ela diz que não, mas foi. - Solto um riso ácido. - Pelo menos eu tive uma boa desculpa já que eu tava abatida e as meninas nem discutiram.

-E você não contou pra ninguém? - Nego.

-Eu não queria ninguém me olhando como a Betty olhou hoje, aquele olhar de pena, sabe?

-Não queria que você passasse por isso sozinha. Só posso imaginar o quanto doeu. - Eu não digo nada e logo sinto suas mãos delicadas puxando meu rosto para que ela possa me olhar. - Não chora, Cherry. - Ela passa os dedos calmamente pelas minhas bochechas e só então eu percebi que, em algum momento, eu comecei a chorar. - Você é a minha Mommy, mas nada me impede de cuidar de você também. - Ela sorri e gruda nossos lábios em um beijo suave, apenas um roçar de lábios.

-Eu te amo, Tee-Tee.

-E eu te amo, Cherry. Muito! - Ela fica em silêncio alguns segundos. - Mas agora eu quero saber o que tá fazendo você passar mal assim. Você comeu algo diferente?

-Não que eu saiba. Eu só tomei o iogurte na geladeira e depois umas torradas. - Ela me olha como se eu tivesse dito algo óbvio.

-O iogurte que você abriu há uma semana atrás?

-Não, Tee-Tee. Esse eu joguei fora faz tempo.

-E quando você abriu o iogurte que tava na geladeira? - Eu me preparo pra dizer, mas eu me lembro que eu não abri nenhum iogurte recentemente. Ela arqueia a sobrancelha quando nota minha cara de culpada. - Você tem que ir no médico.

-Não é nada demais. Daqui a pouco passa! - Ela ia dizer algo, mas corto ela. - Prometo que, se não melhorar, vou ao médico.

-Mesmo?

-Mesmo!

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-Toni, era pra você estar trabalhando, não?

-Então, a chefinha ficou brava e foi pra casa, então ela me dispensou.

-Brava com o que? - Pergunto.

-Eu tava procurando umas coisas no computador e achei uma pasta lotada de pornografia, aí ela mandou buscarem o computador e disse que tava puta demais e precisava trepar.

-Tee-Tee, olha a boca suja! - Ela percebe o que falou e murmura um "desculpa".

-Mommy? Toni? - Ouço a voz do pequeno atrás de mim e me viro, vendo-o na porta, meio escondido, tendo somente metade de seu rosto. Estico minha mão em sua direção e ele vem até mim, pegando em minha mão timidamente. - Toni num vai bola?

-Não, príncipe. A Toni vai ficar com a gente.

-EBA! - Ele se joga contra Toni, abraçando-a. - Nenê ama Toni muitão.

-Só a Toni? - Pergunto, fingindo ciúmes.

-Calu qui naum, Mommy. Nenê ama a Mommy muitão assim! - Ele diz, esticando os braços o máximo que pode. Eu não resisto sua fofura e o abraço apertado, arrancando uma gargalhada.

-Só eu que não sou amada aqui. Tudo bem. Fazer o que? - Betty diz fazendo um drama. O pequeno olha preocupado em direção às Betty e se joga contra ela.

-Masi Nenê ama tia Betty muitão também.

-Mesmo? - Ela olha desconfiada para ele.

-Memu, tia Betty. Mommy dissi qui contá mintilinha é coisa de Nenê feio. E o Biel é um Nenê lindo! - Ele diz, seriamente, querendo que a baixinha acredite nele.

-Sua Mommy tá certinha. Só bebês feios que contam mentiras e você é lindão!

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