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— Clarice Lispector disse "sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite" — engulo em seco e desvio meus olhos dos de Leon. — Você quase me matou, Rossi. Você quase... Céus, você é louca?! Você está incorporando na Clarice? Quer ser o escuro da noite?
— Leon, eu prefiro ficar sozinha agora — sussurro ainda sem olhá-lo.
— Você não vai — teima e eu fecho meus olhos com força. — Eu que te trouxe para esse muquifo de hospital para não te entregar para sua família, eu que estou com você nessa, Jade. Correr? Correr não adianta mais.
Eu permaneço em silêncio, apertando minhas pálpebras como se isso o fizesse sumir dali.
— Depois que você estiver devidamente cuidada, nós vamos seguir para um laboratório e você fará exames — eu guio meus olhos até os dele. — Eu quero ver se você usou alguma coisa, eu quero ver como estão as taxas de tudo no seu organismo. Eu quero que você cuide de seu corpo e de seu psicológico. Me ouviu?
— Você não manda em mim.
— Não, mas do jeito que está fraca eu posso te jogar nas costas e te obrigar a fazer isso tudo — ameaça e eu semicerro meus olhos. — Não tenho mais medo de você, Rossi. Tampouco tenho pena, eu tenho raiva de você. Eu tenho raiva porque você não se cuidar, Jade. Eu tenho raiva porque, mesmo depois de tudo que eu te disse, você continua batendo o pé e tentando se destruir Jade.
— Eu não aguento mais — sussurro e sinto as lágrimas descendo dos meus olhos. — Eu não consigo ver a minha família feliz, como se nada tivesse acontecido, como se... Como se meu avô não importasse pra eles e... E isso é culpa da minha avó, porque eles se sentem bem em saber que eles estão juntos. Isso é culpa dela.
— Jade, você está sendo egoísta.
— Não estou sendo, ela que foi egoísta — deito um soluço escapar da minha garganta e Leon se levanta.
— Você está com raiva agora, mas não é assim que funciona, Jade... — deixo que seu dedo polegar escorregue por minha bochecha para enxugar umas lágrimas. — Nós viemos do pó e ao pó retornaremos, Pesadelo. É assim que funciona.
— Eu só queria...
— Eu sei — concorda e isso me cala, então desvio meus olhos novamente. — Eu sei o que você sente, Jade. Mas, pra você, uma mulher tão corajosa e tão estável, fugir e ter medo de tudo... Não é coerente. Não é do seu feitio fazer o que está fazendo, Rossi.
— Eu nunca vou conseguir sair disso, Leon — sussurro e agora o sinto sentar na cama de hospital que eu me encontro. — Esse sofrimento incessante, esse círculo vicioso... Eu nunca vou conseguir sair disso.
— Pare — pede puxando meu rosto para fixar meus olhos nos seus. — Dê uma chance para si mesma, dê uma chance para conhecer sua própria força, Jade.
