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Aquilo que escuto eu esqueço,
Aquilo que vejo eu lembro,
Aquilo que faço eu aprendo. — Confúcio.
Crescer como irmão mais velho de duas crianças me ensinou a ter paciência, sabedoria e saber conversar. Certos momentos brigar ou ameaçar jogar um chinelo é a única forma de colocar alguém nos trilhos, como meus irmãos — por exemplo; mas, Jade Rossi, a mulher instruída a me ensinar parece não obedecer nenhum dos métodos. Já tentei ser grosso, já tentei conversar, já tentei tudo de formas as possíveis.
Talvez se eu jogá-la de uma ponte...
No entanto, eu não posso sequer reclamar, pois da primeira vez que tentei ela insinuou que eu estava sendo machista e eu me vi contra a parede, sem saber ao certo o quê responder ou como responder tudo que está se passando em minha cabeça. Não tenho medo dela, mesmo com apenas dois dias sendo supervisionado e notar que muitos têm.
Eu gosto do Nicolas, ele é leve e nas vezes que estamos em sua presença eu consigo soltar boas gargalhadas, além disso ele já me chamou para bebermos três vezes em setenta e duas horas que me conhece. Eu também gosto da Donatella, ela é altiva, perspicaz e Jade parece respeitar muito ela, isso significa que ela deixa de ser Jade Rossi por uns instantes e passa a ser sobrinha de alguém que ama.
Eu ainda não conheci David ou a Suzanna, temo pelo o dia que isso venha a acontecer, principalmente David. Ele é um grande advogado, popularmente conhecido por seu sobrenome e por sua crueldade nos tribunais. Já vi promotores xingando David Rossi em alto e bom som, assim como já vi advogados revendo seus conhecimentos por conta dele. Eu já o vi em uma das palestras na faculdade, me passou uma sensação de confiança e de PAI. Algo grita em David que ele é um pai com P maiúsculo, mesmo que seja muito semelhante fisicamente com Nicolas e — este — que não vale um centavo.
— Estagiário, temos audiência mais tarde — Jade entra na NOSSA sala com suas botas estralando no chão de mármore e com seus olhos verdes afiados como um bico de uma águia. — Espero que esteja preparado, vou precisar da sua ajuda.
— Para lhe entregar papéis? — arqueio as sobrancelhas e ela me fita. — Você sabe o que Confúcio diz sobre aprender, Jade. Eu não preciso repetir a mesma coisa de ontem.
— Quando um bebê nasce, ele logo sai correndo? — questiona e eu nego. — Você acabou de entrar, espere e logo chegará seu momento.
— Isso tudo é mesmo necessário? — insisto e ela suspira impaciente.
Ao contrário do que muitos dizem, Jade não é difícil de traduzir. Na verdade, é fácil até demais. Quando ela não está satisfeita, tem essa expressão de impaciência; quando está satisfeita, torce o nariz, mas nada diz; quando está incomodada, seus pés não conseguem se fixar no mesmo lugar por mais de dois minutos; quando está pensando, ela inclina um pouco a cabeça e seus olhos perdem o foco. O único momento que os olhos dela perdem o foco é quando está pensando, mas mesmo assim ela é capaz de ouvir tudo que está acontecendo ao seu redor e ainda responder após longos minutos que esteve pensando.
