05. Pensamentos, Poderes e Treino

28 5 44
                                    

ㅤㅤEra de manhã quando Sayuri Shimizu saiu de seus aposentos. A semana havia sido confusa, e um tanto difícil. Sua recuperação física ocorreu no mesmo dia em que tinha sido atingida pelo oni. Por ser uma kitsune, e ter um dos representantes dos planetas, a garota possuía uma rápida regeneração. Até então.

ㅤㅤMesmo assim, Yuukio a deixou livre de missões por uma semana. Afinal, matar alguém não costuma ser fácil, mesmo esse alguém sendo um oni. Uma vez eles tiveram histórias, tiveram uma família e viveram. Não parecia certo matá-los, mas ninguém conseguiu encontrar uma cura. Fazer os demônios voltarem a serem humanos e terem uma vida normal parecia algo impossível e inacreditável.

ㅤㅤA Sayuri estava bem. Sabia que havia dado liberdade a uma pessoa. Se sentia muito bem, pois ela entendia. Às vezes a cura é abandonar essa vida, e reencarnar. Shimizu acreditava na reencarnação, por isso não se sentia uma pessoa suja, ou uma delinquente por ter decapitado aquele pobre ser. 

ㅤㅤPela falta de conhecimento no esquadrão em que ficava, começou a caminhar investigando cada local e cômodo. 

ㅤㅤSe sentou na frente de algumas pedras ao redor de um laguinho. Assistia as carpas nadarem, mostrando a cor alaranjada de suas escamas. Todo aquele lugar era estranhamente pacífico. 

ㅤㅤ— Aaah! — Um grito agudo e curto. A garota atrás de Shimizu colocou a mão no peito, escutando os rápidos batimentos cardíacos. — Nossa! Nunca esperei encontrar alguém aqui de manhã, até porque, ninguém vinha aqui antigamente. 

ㅤㅤShimizu levantou, e olhou a garota. Enrijeceu os músculos. E trincou o maxilar. 

ㅤㅤ— Você... 

ㅤㅤ— Lamento por aquele dia, florzinha. Koji-san queria que eu visse se seus reflexos seriam bons o bastante. — No fundo, a garota dos cabelos dourados e trançados queria sorrir, mas não conseguiu.

ㅤㅤE o silêncio se instalou por alguns segundos. Shimizu prestava atenção em cada gesto, e até mesmo em cada puxada de ar que a outra fazia.  

ㅤㅤ— Eu... não vou tentar te matar. — Erguia uma sobrancelha. — Meu nome é Yamashita Mayumi — se apresentou. 

ㅤㅤMayumi puxava o ar como se não conseguisse respirar corretamente. Tinha algo de errado com ela.

ㅤㅤ— Bonito né? — Sentava-se ao lado da kitsune. — O que acha das carpas? Tem uma boa aparência e significam boa sorte. 

ㅤㅤ— Vida longa — completou, abaixando-se novamente.

ㅤㅤ— É — disse —, mas eu não acredito nisso. Podem simbolizar perseverança, mas por quê? Ah, isso não importa. No final, nada disso importará. 

ㅤㅤA cabeça de Mayumi pendeu para a frente. As duas tranças voaram na direção do angelical rosto da Yamashita, batendo em suas bochechas. A Sayuri se assustou. Antes que pudesse tocar na garota, ela já havia voltado ao normal. 

ㅤㅤ— Já sentiu sua cabeça pesada? Bom, sabe... quase não consigo mantê-la firme. — Tentava encontrar um jeito de justificar o que havia acabado de acontecer. 

ㅤㅤ— Você está irritada? 

ㅤㅤ— O... o que? O que disse? — Virou um pouco o rosto, observando os olhos da Sayuri. Uma pequena preocupação mostra-se vindo dos olhos de uma raposa. Mayumi quase revirou os olhos. — Brava, é? — Suspirou.

ㅤㅤ— Eu sinto o seu cheiro. Pêssego e mel. Mas também consigo saber só pelo seu cheiro que está brava. É um odor forte. 

ㅤㅤ— Sério? Incrível, Sayuri-chan. — A ironia e acidez fazia Shimizu se sentir desconfortável.

O Legado da Kitsune - IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora