20. A Tempestade Começa

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ㅤㅤ— Sensei, foi ao Esquadrão hoje ou ontem? — Shimizu terminava de comer seu arroz. Colocando a tigela na pia, e lavando junto das mãos. — Sabe se está todo mundo bem…?

ㅤㅤTinha um pressentimento ruim no ar. Como se algo tivesse acontecido. Algo muito ruim. A kitsune não queria preocupar o professor, mas precisava saber se estava tudo bem.

ㅤㅤQuando foi em uma missão no dia passado, Shimizu se feriu muito feio. E estranhamente seu ferimento não tinha cicatrizado por completo.

ㅤㅤ— Não, eu não fui ao Esquadrão nos últimos dias. Por quê? 

ㅤㅤEntão ele não sabia. 

ㅤㅤ— O chá que Fuyuki-san faz é bom para cólicas. E sabe... — o Sensei entendeu de primeira. Assentiu com a cabeça. Shimizu suspirou, a mentira havia funcionado bem.

ㅤㅤ— Claro, eu posso ir amanhã ao Esquadrão. Quer tomar algo para sua dor? 

ㅤㅤ— Ahn... não. 

ㅤㅤOs olhos verdes a encararam desconfiados. Como se Yuukio soubesse que aquilo era uma mentira. Mas não tinha como ele saber. Tinha? 

ㅤㅤ— Se piorar podemos fazer compressa com água quente. 

ㅤㅤ— Entende desse assunto, Sensei? — perguntava, curiosa. Shimizu se acomodou em sua cama, olhando para o professor. 

ㅤㅤUm brilho pareceu surgir no olhar dele. Yuukio mirou o olhar em outro local, e suspirou devagar. 

ㅤㅤ— Lembro que na infância eu ajudava minha mãe. Ela sempre pedia para levar um pano com água quente. — O louro se levanta, indo em direção a pia e colocando sua tigela. — Eu sempre a ajudava…

ㅤㅤSem tom de voz era baixo na última parte. Mesmo assim, Shimizu escutou muito bem. Queria saber mais sobre a vida de seu professor, criar uma intimidade, como pai e filha talvez.

ㅤㅤHamura tratava Shimizu bem, era um ótimo pai. Ótimo espadachim. Mas não sabia muito sobre ele, ou como era a relação de seus pais. 

ㅤㅤNão precisava lembrar do passado agora. Por que ela sempre voltava a se lembrar daquilo? 

ㅤㅤ— Sensei, você tem irmãos? 

ㅤㅤShimizu ficou tão focada nos pensamentos que não percebeu quando o homem havia pego no sono. Outro dia perguntaria. 

ㅤㅤSe deitou, voltando a seus pensamentos. Hamura tinha sido mesmo um bom pai para Shimizu? Ela não se lembrava de muita coisa. Parecia ter um bloqueio em sua memória. Claro. Passar por uma experiência daquelas, com tão pouca idade, foi mesmo um choque. Sempre ficará gravado no fundo de suas memórias, mesmo que sua consciência bloqueasse. 

ㅤㅤA garota sempre achou que Hamura era um bom pai. Talvez fosse o que ela queria acreditar. 

ㅤㅤSó conseguia lembrar de quando ele a acordava com um sorriso largo no rosto, e dizia:

ㅤㅤ— Os melhores soldados sempre acordam mais cedo. Vamos treinar, meu lírio! 

ㅤㅤE assim, Shimizu se vestia com roupas confortáveis, e treinava com seu pai. 

ㅤㅤEssas memórias tão queridas. Tão nostálgicas. 

ㅤㅤShimizu inalou com força o ar. Como se estivesse se renovando. Não iria conseguir meditar. Naquele estado ela só pensava em seu pai. 

ㅤㅤPrecisava dormir. Descansar em um sono profundo e tranquilo. Sem medo do que aconteceria. Sem medo do que poderia acontecer. 

ㅤㅤDeitou-se numa boa posição, e fechou os olhos. Gotas d'água caíam em cima do travesseiro enquanto Shimizu abraçava o próprio corpo como uma criança. Uma criança que imaginava o calor dos braços do pai ao redor do seu corpo. O cheiro forte de Hamura parecia entrar dentro de suas narinas, e por uma fração de segundos, pode sentir uma mão tocar seu ombro. 

O Legado da Kitsune - IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora