29. O Ataque ao Esquadrão

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ㅤㅤOs dias passaram. Mais pareciam anos. O lugar era enfestado por tristeza, mais perdas em missões, e cada dia, mais um fardo é posto nas costas de Shimizu.

ㅤㅤMesmo que tivesse ajuda de Yuukio, ou até de Shira e Fuyuki, nada adiantava se eles estavam mais quebrados que ela.

ㅤㅤShimizu mantinha o olhar baixo, as costas curvadas enquanto não estava em treinamento. Não queria andar. Viver... era difícil respirar.

ㅤㅤCom dificuldade, acomodava-se nas almofadas. Os músculos tensionados após o longo dia de treinamento. Precisava, como todo dia, de um banho para relaxar, e sua cama. Não que adiantasse muito. Shimizu quase não dormia. Em vez disso, meditava mais, igual quando morava naquela velha casa na montanha. Se controlar era seu principal motivo, tentar controlar a raiva, que há tanto tempo estava perdida dentro de seu ser.

ㅤㅤFazia algum tempo que não saia do controle. Um êxito pelo menos. Não era mais um fardo para os outros, mesmo que ainda se sentisse um monstro em certos momentos. A kitsune havia mudado bastante ao longo do tempo, e mal sabia mais o que treinar, ou o porquê de treinar. Nada fazia sentido. Não mais.

ㅤㅤOs dias se repetiam sempre. Um ciclo sem fim, se não fosse pelo clima tão estranho. As folhas se agitavam nos galhos em alguns dias, igual os matos altos do campo. E, em outros, estavam quietos, dominados pelos pingos grossos de chuva.

ㅤㅤO Comandante Geral não havia dado sinais desde que foi até o Esquadrão Central. Ele estava ocupado demais resolvendo os papéis, recebendo denúncias de onis nas redondezas.

ㅤㅤShimizu percebia a estranheza do tempo. Os dias que se repetiam. O clima. A noite. O dia. Tudo estava interligado. Interligado em uma catástrofe que logo viria a calhar. Uma catástrofe que chegava aos poucos, sucumbindo e tomando a energia de Shimizu e de todos os outros do Esquadrão.

ㅤㅤSe não soubesse disso, seria pega desprevenida. E claro que não foi.

ㅤㅤNaquela noite, um urro eclodiu por entre as árvores. O vento ajudou a levá-lo por entre o campo, agitando as plantas do pequeno jardim. A água do lago de carpas. E despertando a Sayuri de um transe. Só aí ela teve a certeza do quão próxima a catástrofe estava.

ㅤㅤCorreu, escorregando as mãos pela porta de correr, a abrindo. Se encontrou com o chão, e levantou rápido, saindo de dentro da casa.

ㅤㅤOs cabelos loiros de Yuukio voavam. Estava com o pijama branco, e se virou. Shimizu sempre iria se surpreender em como o sensei adivinhava quando ela estava atrás de si, sem mesmo a garota fazer qualquer movimento.

ㅤㅤ- Escutou. - Não era uma pergunta. - Está vindo para cá. Trinta segundos.

ㅤㅤShimizu se endireitou, sentindo um tremor no solo. Aos poucos, o abraço de Yuukio apontava para dentro das árvores, e lá, surgiu a primeira criatura. Três chifres na cabeça, a pele verde. Ele era grande, um oni.

ㅤㅤEm questão de milésimos, outros demônios corriam atrás do maior. Tinham armas estranhas, desde bastões de madeira até pedaços de ferros e espadas quebradas.

ㅤㅤShimizu agarrou o braço do professor, o puxando para dentro. Yuukio correu, batendo na porta de cada um dos seus alunos, que apareciam na porta de imediato. Às ordens do Sensei, todos tinham suas katanas em mãos, direcionando-se para o campo, vendo a maestria de Sayuri.

ㅤㅤKoji e Ichiro estavam bem recuperados, e começaram o serviço de eliminação dos onis. Os dois nem se questionaram ao ver a garota. Depois que Fuyuki os contou, a mente dos rapazes pareceu se esvaziar com a descoberta.

ㅤㅤEram muitos demônios, desde pequenos e grandes, pele verde ou amarela. Vários e vários. De onde tantas criaturas tinham surgido? Shimizu se perguntava, não era como da última vez, eles estavam em muitos agora. E pelo que via, como poderiam surgir da floresta? Uma infestação basicamente.

O Legado da Kitsune - IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora