23. Kazumi

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ㅤㅤOshiro entrava na sala com uma bacia cheia de flores. Ao olhar a albina, deixou aquilo em cima da mesa, e se dirigiu na direção dela. Deitada sob a mesa, descansando. 

ㅤㅤ— Oshiro-san? — As pálpebras abriam. Ela as coçou, direcionando seu olhar para o garoto, agora de costas para ela.  

ㅤㅤ— Kazumi... não queria te acordar — disse, sincero, um pingo de arrependimento. — Já falei que pode me chamar só de Oshiro. 

ㅤㅤ— Claro. 

ㅤㅤSem nem perceber, seu corpo foi posto no automático. Kazumi se ajeitava, e começava a fazer mais anotações conforme olhava as amostras de sangue e os venenos prontos. 

ㅤㅤSentiu os dedos do garoto em seu pulso. Engoliu em seco, mirando outro lugar para esconder o rubor presente nas bochechas. 

ㅤㅤ— Descanse um pouco — pedia, firme. Não gostava de assumir esse posto, mas conhecia o tamanho da teimosia da pequena albina. — Está trabalhando nisso há semanas. Contando todos os cochilos, se você dormiu nove horas, ainda que eu duvide bastante, é muito pouco. 

ㅤㅤ— Como quer que eu descanse se tem companheiros morrendo? — A voz saiu trêmula, lembrando de todas as vezes que Fuyuki fingia ser forte para anunciar mais uma morte. Primeiro Aya, depois Yuki... quem mais teria sua vida tirada? 

ㅤㅤ— Se preocupe com você. — Ela forçou a mão para baixo, largando do aperto dele. — Podemos nos virar sem os venenos, somos fortes sem eles. 

ㅤㅤOs olhos arderam. 

ㅤㅤ— Vocês são fortes sem eles — cochichou, com desgosto. Não tinha tempo para chorar. Não agora. 

ㅤㅤ— Sabe que eu não quis dizer isso — disse, suplicando o perdão. — Me perdoe. Só não quero que fique sobrecarregada demais, Kazumi. 

ㅤㅤOshiro se afastou, e ela sentiu a salgada lágrima escorrer até o canto dos lábios. Um fio branco e liso escorregou para seu rosto, Kazumi o tirou sem muito esforço, aproveitando para amarrar o cabelo em um coque. 

ㅤㅤ— Só quero achar uma brecha... uma chance de enfraquecer mais os onis. Preciso criar remédios para ajudar na cicatrização e recuperação dos espadachins. Venenos para matar. Pílulas para curar. Meu pai fazia tudo isso sozinho, e ele dava conta. — Teve uma pausa de alguns segundos, onde o garoto a ouviu respirar pesadamente, tentando engolir as lágrimas. — Por que eu não consigo...? 

ㅤㅤ— Seu pai era muito habilidoso de fato, e está tudo bem, Kazumi, você é nova ainda. Não quero que se sobrecarregue demais, quero vê-la bem, entendeu? 

ㅤㅤAs palavras confortaram o coração dela. O olhou por cima dos ombros. As pálpebras pressionadas para baixo. O cabelo negro desarrumado, e que caía até suas orelhas. O brinco perolado, o kimono vermelho-escarlate que vestia.

ㅤㅤTodo traço do garoto a deixava corada, só de estar no mesmo ambiente que ele se sentia envergonhada e com medo de cometer algum erro. Queria estar bonita. Parecer bonita. Mas não conseguia nem se quer dormir... quem dirá se arrumar para o garoto que está apaixonada. 

ㅤㅤ— Kazumi? — Percebendo a concentração com que ele a encarava, não pode deixar de segurar a inclinação leve nos cantos da boca. 

ㅤㅤEla desviou a concentração para o papel, e começou a escrever as anotações novamente.

>☆<

ㅤㅤQuando chegou perto do bosque do Esquadrão, lugar onde foi combinado o encontro, Yuukio já estava visível. Seu kimono branco com listras em cinza. E seu cabelo loiro de mantinha revolto. O sol reinava atrás de Shimizu. 

O Legado da Kitsune - IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora