28. De Volta ao Esquadrão

16 3 20
                                    

ㅤㅤA impotência atingiu todo o âmago de Sayuri Shimizu. E, em um impulso segurou o corpo de Aiko, que ainda conseguia ficar em pé. Determinada. Seus olhos verdes brilhavam em determinação, em beleza. Pareciam mais vivos. Algo a motivou a se sacrificar desse jeito.

ㅤㅤO chão tremeu, junto de todas as paredes e Kobayashi envolveu os amigos em duas bolas feitas com os galhos e raízes que surgiam de seu corpo. Ela estava inconsciente. Ainda havia adrenalina correndo pelas suas veias.

ㅤㅤFuyuki tinha lágrimas presas em seus olhos. Tentava estancar o sangue de Shira, porém não conseguia enxergar muito bem dentro daquela cúpula. Por outro lado, Shira estava deitada, tentando controlar a respiração.

ㅤㅤShimizu sentiu ser lançada para cima, e fechou os olhos, segurando-se para não ser atingida com o galho traspassando a barriga de Aiko.

ㅤㅤKobayashi salvou os amigos, e o custo estava sendo sua vida.

ㅤㅤ— Aiko-san... — Shimizu clamava, tentando fazer a garota abrir os olhos. Passou a lâmina da espada, quebrando a cúpula e todas as raízes que saiam  Kobayashi foi apoiada na bola. — Eu vou te salvar, só preciso tirar isso e... Eu não sei... Não sei o que fazer!

ㅤㅤA sensação do fracasso a atingiu novamente. Seu coração batia tão rápido. Algo embaçava sua visão por completo. Seus lábios tremiam. Sua respiração desajustada. Ela se ajoelhou ao lado da garota.

ㅤㅤAiko estava apoiada na cúpula.

ㅤㅤ— J-Já fez... de mais... — Aiko sussurrou, sentindo agora o peso da salvação dos seus amigos.

ㅤㅤ— Eu fiz?! — O grito repentino de Shimizu assustou Aiko. — Eu vou conviver com esse peso enorme nas costas! Não me faça te perder! Vou fazer algo, me diga o que posso fazer, Aiko-san!

ㅤㅤShimizu implorava, mesmo não sendo de seu feitio. Estava desesperada. Kobayashi sorriu, passando o polegar pelo queixo da kitsune, e pousou a mão nos cabelos castanhos-escuros e alaranjados.

ㅤㅤ— Descanse, Sayuri.

ㅤㅤShimizu encostou a testa na grama. Uma fina chuva caia lentamente, acrescentando um clima triste e perdido. As nuvens cinzas enfeitavam o céu. As costas se arqueavam cada vez mais. Com os primeiros soluços da garota, Aiko percebeu o quão sentida Shimizu estava.

ㅤㅤKobayashi queria abraça-la. Conseguia ver o tamanho da responsabilidade posta nas costas de Sayuri. Conseguia ver o quão aquele peso a prejudicava.

ㅤㅤ— Eu... Eu vi todos morrerem... Yuki, Mayumi... e eu não consegui fazer nada. Poderia ter salvo o Oshiro, mas não podia sair da droga do quarto! — A voz sumia aos poucos, dando lugar as lágrimas e soluços mais altos. — Eu poderia ter salvo todos, mas fui insuficiente! — O som do estalar da palma de Aiko na bochecha de Sayuri ressou na mente da kitsune, por longos segundos.

ㅤㅤ— Salve a si mesma...

ㅤㅤAiko sentiu o gosto metálico na sua boca, não teria muito tempo. Mal ouvia seu coração bater, e a garganta parecia seca, mesmo com a presença do líquido entalado. Sayuri se aproximou mais do corpo de Kobayashi, escutando as últimas batidas do seu coração... Algo não queria que Aiko morresse. Mas seu corpo perdia as forças.

ㅤㅤ— Me deixe ir, Sayuri... — as palavras saíram sem nem mesmo ela perceber. — Não aguentaria ver o Fuyuki morrer algum dia, então por favor... Me deixe partir... — As lágrimas de ambas as garotas escorriam pelas bochechas.

ㅤㅤA chuva se intensificou mais. Um silêncio de segundos que mais pareciam horas se instalou. Aiko suspirou, buscando ar.

ㅤㅤ— Tem uma caixa... abaixo da minha cama...

O Legado da Kitsune - IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora