Capítulo 6

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As malas saíram arrastando a areia pela rua, formando um caminho por onde ela passava. Mary pulou para subir na calçada da praça, sentando-se no banco de madeira. Amélia respirou fundo, sentindo o ar gelado da noite chegando e beijando seu rosto de leve. Sem acreditar no que fez. Olhou ao redor, vendo as crianças pulando alegre, com pirulitos na boca, correndo umas das outras. Por que a vida não podia ser fácil assim como na infância?

Refez toda a sua decisão. Olhou para Mary, estava com sua irmã pequena na rua, na noite fria, sem ter onde ficar, sem ter onde dormir. Colocou a mão na boca ao processar tudo que fez. Céus, ela estava se arrependendo da decisão. Não tinha dinheiro para comer, lugar para dormir.

Onde iria dormir com sua irmã? Uma criança não podia dormir na rua. O céu fechou-se como o seu coração. E logo o ar frio avisou que não era apenas para acalmar os cidadãos, mas um sinal de chuva. Foi então que bateu o desespero na expressão da Bernot. Colocou a mão na cabeça. Precisava pensar com calma, se fosse para alguma pensão, não teria o dinheiro da passagem, se comprasse algo para comer, não teria o dinheiro para hospedagem, tão pouco para voltar para a sua cidade e pedir auxílio para sua tia, única família que ainda tinha.

Mary pulava de um lado para o outro. Venceram o ogro, como disse o anjo da floresta. Tinha que falar para ela, lembrando-se de Juliet na esperança de reencontrar a dama e contar a sua história. Falar que conseguiu vencer como uma princesa, duas princesas, e agora que estavam longe daquela casa, podia levar sua irmã até o anjo. Era isso que ela queria fazer.

— Vamos à casa do anjo da floresta. — pediu a pequena, colocando a cabeça no colo da irmã.

— A casa do anjo? — Amélia levantou a cabeça.

— Sim.. é... — ela tamborilou os dedos finos e pequenos na ponta do seu queixo. — Pensão. — gritou ela.

Uma pensão? Era perfeito. Podiam dormir em uma pensão.

— Onde fica essa pensão? — Amélia segurou as mãos da irmã.

Mary deu de ombros.

— Não sei, mas o anjo disse que era só perguntar.

Ela recolheu todas as malas do chão. Parando na banca de jornais onde o dono preparava-se para encerrar o trabalho do dia, fechando a sua banquinha.

— Senhor, por favor — ela aproximou-se, arrastando os pés com o peso das malas. — Sabe onde fica a pensão girassol? — foi a única informação que sua irmã deu sobre a pensão daquilo que ela chamava de anjo.

— A pensão Girassol? — o homem sorriu. — Claro que sei, é descendo a esquina, virando aquela rua do sino, só seguir reto até a floresta. Quando estiver no fim da rua, é a casa do último poste — ele sinalizou com a mão, mostrando o caminho.

— Muito obrigada!

As duas caminharam seguindo por onde o moço simpático de cabelos grisalhos havia ensinado, sentindo as primeiras gotas de chuva caírem em seus lábios. Estava chegando perto, conseguia ver a floresta.

Olhou para o céu, sendo recebida pela água como um banho divino. Elas começaram a correr. Sua irmã começou a tremer de frio, batendo os dentes de ombro encolhido.

Ficaria resfriada assim. Pegaria uma grite, pensou Amélia. Como a gripe da sua mãe. A mais velha largou as malas no chão. Colocando a irmã nos braços para correr. Tentando receber toda a chuva no lugar da irmã, cobrindo-a com o seu corpo.

Juliet correu para fechar as janelas do primeiro andar. A chuva estava molhando os quartos da pensão. O temporal ficou tão pesado que entristeceu a jovem ao olhar a chuva passando. Lembrando-se da moça da livraria que vira o homem que ama em um local tão boêmio. Ela sabia como era a sensação. Sentiu tal sentimento várias vezes com o Lemont, mas sabia que as duas situações eram bem diferentes, pois o Lemont não tinha nenhuma obrigação para com ela. Não sabia do sentimento de ser traída pelo noivo, em uma cidade desconhecida. Diferente de Lemont que tinha como imaginar que uma dama ao vê-lo com outras partia o seu coração. Ele não tinha culpa. Mas o Collins tinha culpa. Culpa de tratar com tanto descaso o sentimento de uma dama.

Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora