Capítulo 1

789 65 20
                                    

Ouro Verde, 1893

Quem nasce em Ouro Verde nunca deixa a cidade por inteiro. Não importa a distância, sejam montanhas ou oceanos, Ouro Verde nunca sai das veias. Nas raízes que florescem nos corações com o encanto da cidade alegre e próspera, ou os troncos firmes de florestas regadas pelos nomes que passam de geração em geração. Claro, quando a vontade floresce de desejos e boas memórias, a volta vem do coração, mas quando os troncos de um nome firme na cidade é o único motivo de voltar, não há carinho nas ações. Um homem que valoriza o nome, mas não valoriza as lembranças, não colhe frutos doces em Ouro Verde. Já dizia o ditado: você colhe o que planta.

Foram os ventos de Ouro Verde que fizeram as folhas da carta amassar com tamanha ventania que passava pelos dedos finos do carteiro. A carta que saiu da residência Collins foi entregue em segredo por um carteiro contratado para o serviço. Passando de mão em mão durante o percurso, com o mesmo silêncio que atormentava a residência Collins durante mais de dois anos.

Com as férias inusitadas de Cristopher Pilmon, os Collins viram a oportunidade perfeita para agarrar mais da fábrica. Sem o maior negociante da fábrica "Collins e Pilmons" na cidade, estava na hora dos Collins voltar para o topo. Com um filho sumido e outro escondido longe de Ouro Verde, restou apenas um dos jovens para o Sr. e Sra. Collins investirem. Com uma carta escrita à mão pelo próprio Richard Collins, ele pediu... não, ordenou a volta do filho mais velho.

As risadas finas das crianças brincando com o cachorro ecoavam pelos campos floridos. Mary brincava com mais duas crianças que rodavam segurando as fitas azuis para atrair o animal. A criança sorriu para a irmã, que a observava com a preocupação tomada em seu coração. Com a mão próxima ao peito, Amélia sabia que o sorriso da sua irmã não era verdadeiro.

O carteiro foi recebido pelo mordomo da casa. O grande homem magro ajeitou sua gravata borboleta ao receber a carta amassada, reconhecendo o nome para quem se designava a correspondência.

— Sr. Collins — Ele caminhou com a perfeita postura até onde o homem brindava com mais três cavalheiros e entregou a carta nas mãos do rapaz, que não se importou de virar o rosto para olhar o mordomo, apenas esticou a mão, recebendo a carta.

O Collins abriu a carta amassada. Ao reconhecer a letra do pai, pôde sentir o ar que tanto odiava da cidade do interior. Rangeu os dentes em cada leitura minuciosa, não acreditou de primeira, teve que reler e reler. Bateu a porta do escritório fortemente. Assustando Mary que correu para os braços da irmã. O Collins amassou a carta e lançou o papel em um quadro de uma pintura renascentista.

Não voltaria, não iria voltar para o fim do mundo que considerava Ouro Verde pelos negócios do pai. Foi quando se lembrou de algo, sua conta bancária estava no vermelho. Decaiu após esbanjar das suas mordomias noturnas na cidade grande. Foi quando viu nas palavras do pai a oportunidade de voltar para a vida luxuosa que tinha, em uma pequena cidade que considerava o seu nome comparado a de um rei. Ele sorriu. Saiu do escritório anunciando em alto e bom som:

— Façam as malas! Iremos para Ouro Verde — Sua voz grossa ressoou em um tom autoritário.

— Ouro Verde? — Amélia tirou sua irmã do colo e colocou-a no chão. — Onde fica?

— No fim do mundo, virando a esquina — brincou ele. — Arrume sua mala, iremos ao amanhecer.

— Minha mala? — Ela olhou para a pequena que balançava os pés pendurados ao sentar na poltrona. — E Mary?

O homem entortou os finos lábios, deslizando os olhos verde-escuros em direção à criança. O peso extra, segundo ele, que conquistara.

— Não vou sem ela — Amélia cruzou os braços, mas logo desfez a ação quando os olhos impenetráveis do homem decaiu sobre ela. — Ela é minha irmã, Colton, não posso deixá-la.

Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora