Capítulo 26

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Não seria certo dizer que na manhã seguinte Ouro Verde acordou com o cheiro das flores alegrando os moradores. Nem todos receberam boas notícias ou tiveram o prazer de acordar sem preocupações. Foi o caso dos trabalhadores da fábrica "Collins e Pilmons", a carta avisando sobre o novo funcionamento da fábrica foi enviada até as casas dos trabalhadores. Enquanto tomavam seu café, sentindo o cheiro do cubo de açúcar derretendo no líquido quente, os funcionários foram avisados da redução absurda de seus salários.

Rodrigo, o primeiro funcionário da fábrica afastou a cadeira com tanta força que fez o móvel virar para trás. A sua esposa teve que segurar as pernas bambas da mesa para não derrubar as xícaras de café. O homem segurou tão firmemente o papel em mãos, que sentiu suas unhas rasgando o papel. Ele jogou a carta na mesa, levando a mão até a cabeça, mas não era desentendimento, era de raiva. Ele e seu filho começaram a trabalhar na fábrica no ano da inauguração, e ainda precisavam trabalhar na loja da esposa para sustentar toda a família com seis pessoas. A redução de salário não era só absurda, era cruel.

Ele passou os dedos nos poucos cabelos grisalhos que tinha na cabeça. Descendo a palma da mão em seu rosto, massageando o canto dos seus olhos, sentindo as rugas se formarem. O que fariam?

Sua resposta bateu à sua porta. Um grupo de funcionários que tinham o Rodrigo como chefe, já que ele sendo o mais velho na fábrica os ajudava com tudo que podia, ensinando os mais novos. Os cinco homens bateram à porta dele com as cartas em mãos.

— Você viu isso? — indagou um, enfiando o indicador no papel com tanta força que amassou a folha.

— Sim, eu vi. — respondeu Rodrigo, lançando seu olhar negro em chamas para os homens.

— O que faremos? É muito pouco. — indagou outro, sem se importar com o estado do papel, amassando a carta e jogando entre as flores na frente da casa de Rodrigo.

— Precisamos falar com o Sr. Collins. — propôs o mais baixinho entre eles.

— Você não leu a carta? O contador foi indicação dele — A voz de Rodrigo saiu mais raivosa do que queria, não era com esses homens que ele deveria depositar sua raiva. — Falaremos com o Sr. Pilmon. — afirmou ele. — Eu falarei.

— Pensas que ele nos escutará? Ele pouco se importa conosco.

— Faremos com que nos escutem. — Pisou o baixinho em sua carta ao jogar no chão. — Não vou trabalhar com este salário, ganho mais na floricultura de minha mãe.

— Isso... — Rodrigo balançou o indicador na direção do jovem, segurando os ombros do rapaz e sacudindo o pobre coitado — Não vamos trabalhar — Rodrigo desceu da sua varanda, abrindo o portão de sua casa, para ir até à casa do Pilmon.

— Calma, Rodrigo... — Outro o segurou pelo ombro. — Não nos precipitemos, mesmo sendo pouco, alguns ainda precisam desse salário.

— Não mais do que eles precisam do nosso trabalho. — Rodrigo tirou a mão do amigo de seu ombro. — Como farão a fábrica seguir sem seus funcionários?

— Podem conseguir outros funcionários. Não devemos arriscar nossos trabalhos assim — O homem tirou sua boinha. — Vamos falar com o Sr. Pilmon, e ver no que vai dar.

— Certo. — concordou Rodrigo. — Vamos!

Em sua residência, Marco tentava ler seu jornal enquanto Cristina tentava pentear os fios de cabelo de sua neta, mas os pequenos pezinhos da criança balançavam embaixo das folhas do jornal do seu avô, que desistiu da leitura, dobrando o jornal e colocando na mesinha de centro.

— Onde está Victória? — perguntou ele.

— Foi para casa de Juliet. — respondeu sua esposa.

Ele franziu o cenho, colocando a mão debaixo do queixo para apoiar a cabeça.

Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora