Na residência Mentis, Rosali deu um tapa no pé do sobrinho que lia deitado no sofá, obrigando-o a se recompor.
— Lemont! — começou sua tia.
O jovem sabia diferenciar o tom de voz de sua Tia, e sabia o que vinha depois da voz fina e doce que Rosali falava logo após pronunciar seu nome.
— Conheci uma doce mulher, que visitou recentemente minha loja — disse, finalmente. — Ela é muito bonita, tem bom gosto para tecidos, não usa branco, mas é solteira. Acredito que não seja desta cidade para seguir as tradições.
— Não usa branco...que absurdo! — Ele colocou a mão no peito, forçando um drama.
— Não zombe de minhas intenções, rapaz.
— Perdão, minha tia. Mas não estou interessado.
— Então procuramos alguém que use branco.
— Não... — Ele sacudiu as mãos para a tia parar. — Eu não me importo se ela seguir as tradições de usar branco, na verdade, até prefiro não seguir as tradições — Ele disse, arrependendo-se ao ver o olhar de reprovação de sua tia. — Só não estou em busca de um relacionamento.
Sua tia abriu a boca para protestar, mas foi interrompida por três batidas à porta. Lemont saltou do sofá para atender a porta. Agradecendo aos céus por lhe tirar daquela conversa antes que sua tia o convencesse a tomar um chá com a dama. Rosali tem uma incrível capacidade de convencer os sobrinhos a fazer as coisas que não querem.
Ele abriu a porta. Deparando-se com um homem de bengala, sentindo a dor no pé da última vez que se deparou com um homem assim.
— Posso ajudá-lo? — perguntou ele.
— Sim, quero falar com o Paul Mentis.
Lemont descolou os lábios para gritar pelo irmão, que pareceu ter ouvido a situação e apareceu no pé da escada.
— Sr. Dollin! — Paul desceu os degraus para receber seu chefe. — Como posso ajudá-lo?
Paul perguntou para seguir com o procedimento formal, mas pôde imaginar o que o homem queria enquanto o guiava para o seu escritório. Estaria fazendo aquilo que jurou para si nunca fazer: envolver-se em negócios da cidade. Só precisou juntar os pontos, a greve foi anunciada pelo jornal da manhã, com a matéria escrita pelo seu próprio irmão. Sabia no que isso ia dar, mesmo querendo negar. Eles precisavam de outro contador e, mesmo sentindo-se lisonjeado pelo Sr. Dollin que pensou nele, odiava a ideia de ir contra os seus princípios, envolver seu nome em algo da cidade, sabia o que isso poderia gerar.
Mas ele deixaria a sua cidade com as mãos abanando? Pelo medo? Amedrontado pelo nome do fantasma, Francisco Mentis? Pessoas estavam perdendo o emprego, trabalhadores com famílias que precisavam se manter, como ele e mães como Morgali que precisavam do trabalho para sustentar a casa.
Massageou a testa, enquanto ouvia a proposta do Sr. Dollin.
O nome do fantasma o limitava mais do que ele pensava. Céus, por que tinha que ter esse nome? Manter e viver em prol e sustento de um nome que não o merecia, que não merecia os feitos de seu irmão ou de sua irmã ligados a um nome sujo, o nome de um covarde.
Quando Sr. Dollin ficou calado, Paul percebeu que se manteve em seus devaneios por mais tempo do que deveria.
— Sr. Dollin, agradeço por pensar em mim, mas... — Ele inspirou fundo, queria negar, mas nem mesmo para isso tinha coragem. — Não me sinto capaz de reverter esse quadro tão alarmante.
— Ora, rapaz, deixe de humildade, não teria lhe considerado se não soubesse ser capaz.
Paul cruzou os braços em frente ao peito, murchando os ombros ao pensar.
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Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2
RomansaA cidade de Ouro Verde sofreu algumas mudanças com a saída do casal recém-formado entre uma Mentis e um Pimon. Sem tempo para sentir saudade, os ventos trouxeram novos planos para os moradores da cidade, com as mudanças das estações de mais um ano e...