Na casa dos Pilmon o dia começou calmo. Bem, calmo para uma casa que tem uma criança de três anos. Rita corria de um lado para o outro com suas tiaras enroladas nos braços. Marco levantava o jornal para a neta passar enquanto fugia da mãe. Victória tentava arrumar a filha para irem ao torneio no campo, devido a grande quantidade de inscrições, já que mulheres também eram aceitas, o torneio seria realizado no lago de Ouro Verde. Seriam dois dias de torneio e, como em todo ano, era uma tradição para eles acompanhar o evento. Claro, que nos anos normais, seria para apoiar e torcer pela Francis Mentis, mas Victória não queria perder o torneio, mesmo sem a presença da amiga. Faria isso pela Francis, torceria no torneio pelas duas.
Claro, se sua filha deixasse.
Cristina penteava o cabelo olhando-se no espelho da sala. Riu mais das peripécias da sobrinha do que desembaraçou seus longos fios loiros.
— Você vai para o torneio, querido? — perguntou ela.
Marco dobrou o jornal para olhar a mulher ao responder:
— Não, tenho uma reunião com os Collins e o novo contador da fábrica — Ele jogou o jornal na mesinha. — Temos que decidir um novo salário antes do próximo mês. E o Collins garantiu que esse contador é dos bons.
Victória riu, sendo recebida pelo olhar de soslaio de seu pai.
— Ele é um Collins, papai. Não espere muito — Ela envolveu Rita em um abraço de urso. — Além do mais, foi o homem que insultou Juliet e Amélia na rua. Não gosto dele.
— Não é questão do seu gosto. É questão de competência. — Ele juntou o polegar e o indicador ao gesticular a mão esquerda para falar com a filha. — Se ele entregar uma boa proposta para os fornecedores e sócios, não terei como negar.
— Um homem como aquele não é competente. — Victória mexeu os ombros ao falar. — Se eu fosse o senhor, tomaria cuidado com as ações dos Collins.
— Não preciso que me diga isso, estou com os olhos abertos para qualquer ação deles, mas... — passou a mão em sua barba grisalha. — Se os sócios aceitarem, não poderei fazer nada.
Victória conseguiu colocar uma tiara na filha, com um laço rosa, que nos olhos da pequena Rita mais parecia que ela estava sendo carregada pelo imenso monstro de fita que dormia em sua cabeça.
Elas caminharam em direção à porta. Entraram na carruagem no momento que a carruagem dos Collins entrou pelo portão. Victória enrugou o nariz, fechando a porta da carruagem com força para evitar olhar mais do que queria para eles.
Colton, Richard e Ferdinando Collins entraram na casa. O contador logo entendeu porque Marco Pilmon tem fama de não devagar. O Pilmon foi logo conduzindo-os até o seu escritório, sem muitas delongas, pediu para ler a proposta com o novo salário. Seus dedos caminhavam pela sua barba enquanto ele revirava os olhos em cada número. Franziu o cenho ao ver o relatório final. Era uma boa proposta, para eles. Era uma redução significativa dos salários dos funcionários. Teriam um retorno maior, economizando com os fornecedores e diminuindo um terço do salário dos funcionários. Ele rangeu os dentes. Passou os olhos pela justificativa para tamanha redução, usou os gastos extras com mais contratação de funcionários em demais filiais. A proposta era simples: apresentar mais contratação de mais funcionários para aumentar a produtividade e diminuir o salário, alegando que com mais funcionários, menos trabalho.
Os sócios aceitariam, era óbvio. Marco não precisou pedir que Ferdinando explicasse, tão pouco queria. Era uma proposta que beneficiaria todos: os fornecedores, os sócios e os donos, ou seja, eles.
Todos, menos os funcionários.
— Seria bom avaliar outra proposta, de outro contador. — Marco notou na feição fechada que Ferdinando, que ficou ofendido. — Apenas para apresentar duas propostas diferentes.
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Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2
RomanceA cidade de Ouro Verde sofreu algumas mudanças com a saída do casal recém-formado entre uma Mentis e um Pimon. Sem tempo para sentir saudade, os ventos trouxeram novos planos para os moradores da cidade, com as mudanças das estações de mais um ano e...