Capítulo 28

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Marco Pilmon até tentou, mas não conseguiu ouvir todos os funcionários de uma vez. Um seleto grupo de vinte funcionários da fábrica surgiram sorrateiramente de todos os lados da cidade para relatar a indignação com a redução de salário. Rodrigo tomou a dianteira da situação, entrando ele e mais dois homens que seguiram o Marco até o escritório. Cristina não entendeu o que estava acontecendo, mas ao olhar os funcionários, ela pensou: "O que seu marido fez dessa vez?". Não eram expressões raivosas, ou talvez estavam com raiva, mas a feição de tristeza tomava a conta do canto dos olhos deles. Mais que isso, eram feições preocupadas.

Victória encontrou um dos doceiros que levava os mantimentos até sua loja, conversou com ele no portão de casa. O rapaz sabia que a moça tão bondosa que sempre o tratou tão bem não tinha culpa da situação, e explicou calmamente o que os funcionários estavam reivindicando. A moça, no que lhe concerne, escutou com atenção, entrando na casa com Rita nos braços.

— Onde está o papai? — perguntou ela, colocando a criança no chão — Você soube disso, mamãe? O que o papai fez?

— Calma, querida, eu não sei o que está acontecendo, mas seu pai está com uns homens no escritório tentando resolver. — Cristina pegou Rita, colocando a menina sentada em seu colo. — Seu pai já está muito nervoso com tudo isso, espere um tempo para conversar com ele.

Victória bufou, não sabia o que fazer, mas era intransmissível para ela. Não entendia de negócios, não sabia se a fábrica estava passando por tantas necessidades. Mas lembrou-se do rapaz que a explicou com uma tristeza no olhar, lembrou-se de Amélia que tinha uma irmã para sustentar, com escola e pensão para pagar. Todas as suas funcionárias dependiam do salário para ajudar em sua casa. Tentaria conversar com o seu pai. Conversaria até com os Collins se fosse preciso.

Em seu escritório, Marco tentava acalmar os homens que falavam apressadamente, todos de uma vez. Quando Rodrigo tocou no ombro dos amigos e pediu para ter o espaço de fala.

— Não podemos trabalhar assim, Sr. Pilmon. — iniciou ele. — Trabalhos menos pesados dão o mesmo retorno que o salário que está nos ofertando.

— Está falando por todos? — indagou Marco.

— Não, não por todos, alguns ainda aceitaram o salário, mas pedimos um pouco mais de compreensão em rever essa situação. Eu e o meu filho trabalhamos na fábrica, essa redução está afetando dois dos que levam dinheiro para casa. São duas mãos de obras ganhando o salário de uma.

— Eu não irei trabalhar nessas condições — O homem gordo ao lado de Rodrigo bateu com as palmas na mesa — Trabalhamos na fábrica desde que ela foi inaugurada, e não é um trabalho fácil. Têm cozinheiros, faxineiros, operadores das máquinas, empacotadores e distribuidores que correm de um lado para o outro para fornecer os suprimentos às lojas físicas.

— Eu entendo as suas alegações. — Marco o cortou ao ver o punho do homem sendo fechado. — Falarei com os sócios e buscaremos uma forma de reverter a situação.

— Qual o valor que daremos para a suas palavras? — indagou o bigodudo ao lado de Rodrigo.

— Resolver isso será a nossa prioridade. — alegou Marco. — Assim como vocês saem em desvantagens, nós também, um só dia de trabalho perdido é um desfalque em nossa fábrica. — Ele abriu a gaveta, tirando um papel e caneta. — Escreverei neste exato momento para os sócios, pedindo uma reunião de emergência.

— Então está bem! — concordou Rodrigo, correndo os olhos em cada palavra que Marco escrevia no papel. — Não trabalharemos até isso ser resolvido.

Marco levantou o olhar antes de pôr o ponto final, encarando Rodrigo, que não piscou após tomar sua decisão. Não titubeou um só minuto, mantendo seu olhar cinza-chumbo firme em direção a Marco. São funcionários de fibra, Marco foi obrigado a concordar. E colocou o ponto final na carta.

Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora