Amélia terminou mais um dia de trabalho. Ajudou as meninas a fechar a loja. Despedindo-se das simpáticas moças com quem trabalhava fazia duas semanas. Deu alguns trocados que conseguiu com a gorjeta dos clientes para um homem que vendia flores para ajudar nas despesas em sua casa. Ela rodava a rosa segurando pelo caule com as duas mãos entrelaçadas uma na outra. Avistou Paul de longe, saindo da livraria com um imenso sorriso gentil ao ajudar uma senhora a subir em sua carruagem. Amélia não se esqueceu de um homem que lhe foi tão gentil. E Paul não era de uma beleza fácil de esquecer.
Ela atravessou a rua.
— Sr. Mentis — O chamou ao subir na calçada em que ele estava.
Paul virou-se. Ninguém na cidade o chamava de senhor. Um desocupado não merecia tamanha formalidade para os moradores da pequena cidade. Estranhou ao ver que se tratava de Amélia.
— Olá, Sra. Bernot. — respondeu, sorrindo.
— Não tive a oportunidade de me desculpar e agradecer por tudo que fez.
— Não precisa se desculpar, mas aceito os agradecimentos — Ele colocou a mão livre no bolso. — Caminhando pela cidade?
— Não, acabei de sair do trabalho — Ela apontou para a cafeteria de Victória. — Posso convidá-lo para um café? Ou está ocupado?
No pouco tempo que ficou na casa dos Mentis, recordou que Paul trabalhava dia e noite em seu escritório.
— Entendo se tiver compromisso — afirmou.
— Sim, tenho compromisso, mas nada que não possa ser cancelado para tomar café com uma dama.
Ela sentiu o rubor tomar conta de seu rosto. Sentiu-se estranha, respondendo com estranheza. Esticou os braços para oferecer a rosa para Paul.
Paul esquivou-se com a ação. Nunca conseguiu compreender a necessidade que o povo tem de lhe entregar flores.
Quando notou o que fez, Amélia tentou consertar de forma atrapalhada na explicação pela sua atitude:
— Faz parte do agradecimento.
Bom, pelo menos dessa vez as rosas eram para ele. Ele aceitou a rosa. Não podia recusar um presente tão gentil de uma dama.
— Vamos? — Ele gesticulou para ela mostrar o caminho.
— Não sei onde ficam as cafeterias, só conheço a que eu trabalho.
— Ora, ninguém lhe apresentou Ouro Verde?
— Sim, a Victória fez isso, mas... eu esqueci.
— Vamos, conheço uma excelente.
Era uma cafeteria ao ar livre. O cheiro doce espalhava-se entre os ventos frios da região. Havia pássaros espreitando nos bebedouros do gramado, paravam para observar os humanos, com as garras dos pés nas cercas de madeira que os dividiam das mesas dos clientes. Paul puxou a cadeira para que ela pudesse sentar.
— Paul Mentis — O garçom chegou próximo deles, sorrindo para Amélia que retribuiu o sorriso. — O mesmo de sempre?
— Sim, e o que a dama quiser.
O garçom mostrou as opções para Amélia que escolheu alguns doces que achou bonito e um café sem açúcar.
— Você é bem conhecido na cidade. — comentou ela.
Ele riu, coçando a cabeça de forma pensativa.
— Não é de uma forma boa. — afirmou ele.
— E de que forma?
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Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2
Roman d'amourA cidade de Ouro Verde sofreu algumas mudanças com a saída do casal recém-formado entre uma Mentis e um Pimon. Sem tempo para sentir saudade, os ventos trouxeram novos planos para os moradores da cidade, com as mudanças das estações de mais um ano e...