Capítulo 24

185 44 22
                                    

As moças fizeram as malas. Juliet não pôde ajudar, graças a sua mão enfaixada, ela teve que ficar sentada no sofá enquanto Amélia e Dona Ana ajudavam as dançarinas com as malas. Violeta deu um longo abraço em Juliet e Amélia. Não conseguiu segurar as lágrimas que deslizou pela sua pele branca até encostar em seus lábios.

— Somos eternamente gratas. — disse Dona Jesebel.

— Bom, não vou convidar vocês para nos visitar. — riu a ruiva. — Mas podemos sempre marcar um chá da tarde.

— Claro que sim. — confirmou Amélia.

— É, também não estranhem se eu aparecer por lá algumas vezes. — brincou Juliet, lembrando-se da vez que causou um rebuliço de mesas e vinhos quebrados pelo cabaré.

— Fiquem bem, meninas! — Violeta beijou o lado esquerdo da bochecha de Amélia e Juliet.

Um último aceno foi abafado ao virar a esquina. Juliet suspirou, graças a elas, teve pela primeira vez sua pensão completamente cheia e, devido a isso, estava um passo mais perto com suas economias para trazer sua mãe.

— Vou trabalhar! — anunciou Amélia, colocando seu avental no braço. — Vamos, Mary! — Ela se inclinou na ponta da escada para chamar a irmã.

— Estou descendo! — respondeu a pequena.

Ela logo saiu saltitando pelo corredor, com sua tiara rosa escorregando pelos fios de seu cabelo. Sua bolsa balançava de um lado para o outro, enquanto descia as escadas para correr em direção da irmã.

— Boa aula, Mary! — Juliet sorriu para ela, que retribuiu mostrando seus dentes de leite.

As duas saíram da pensão. Amélia sussurrou para a pequena a resposta da dúvida sobre borboletas que a menina perguntou para a irmã.

Juliet sentou à mesa, dando um aceno de despedida para Dona Ana que iria completar mais coisas de sua lista.

A Romenik suspirou, permitindo-se ouvir cada canto de sua pensão. Ouvindo o silêncio que ecoava pelas paredes, algumas janelas dos quartos batiam com a ventania que passava por Ouro Verde. Ela sorriu, desacostumou-se a ter poucas pessoas em sua pensão. Isso a entristeceu um pouco. Ficou ainda mais abalada ao lembrar de sua mão. Precisaria visitar o médico, mas não queria ir sozinha. Nunca gostou de hospitais, e tinha medo de descobrir que ficaria mais com esse negócio que não a permitia fazer nada em sua adorada pensão.

Levantou-se, batendo a palma da sua mão boa em sua coxa. Não podia ficar abalada com algo tão simples. Ela daria um jeito. Já estava começando a pentear o cabelo com a mão direita.

Foi quando arregalou os olhos ao lembrar que não tinha ninguém em casa. Quem iria ajudá-la a se vestir?

Bom, a confiança de uma mulher é perspicaz e necessária. Sua mão doeu ao tirar o vestido branco que usava. Por deus, pensou mil vezes em ir com ele, sem precisar trocar. Mas era um vestido folgado que usava para ficar em casa, sempre que pisou fora do seu quarto, decidida a ir com ele, pensou no olhar de sua mãe, bufou e encarou novamente a tentativa de tirar. Como podem as mães nos repreender mesmo estando a quilômetros de distância?

Saiu dele feito uma minhoca agachando-se com o braço direito erguido para o teto. Torceu, rebolando o corpo de um lado para o outro para levantar o corpete que caminhou para os lados em suas acrobacias para tirar o vestido. Afundou sua blusa branca mais largas nos braços para passar com facilidade. Afundou o tecido da blusa e levantou a saia, contorcendo os lábios ao prender o tecido de seda de sua cintura no dedo engessado.

Se já estava pensando que não iria tirar a tala tão cedo, agora teve a certeza.

Afundou no sofá, feliz ao ter conseguido terminar. Encostou-se sobre o sofá e sentiu o arrepio das suas costas ao tocar no veludo do acolchoado. Entendeu porque a blusa era tão fácil de colocar, era de botões. Inclinou a cabeça no braço do sofá. Não iria mais.

Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora