Capítulo 15

238 44 8
                                    

Amélia sorriu ao lavar a última xícara de café. Afofou a saia do seu uniforme. O suor que escorria em sua testa não a incomodava, ela sorriu ao olhar-se no espelho do banheiro, pegando um pouco de água na vasilha e passou em seu rosto. Refez o seu coque, prendendo seus cachos e saiu. Pegando um pacote com os doces que sobraram e ela iria levar para Mary e Juliet. Tirou seu avental e seu uniforme, vestindo seu vestido branco com mangas bufantes, a única coisa que o diferenciava, era um laço azul na cintura, mas...ainda branco. Deus sabe que ela não tenta enganar a tradição...Mas, ela ainda queria se casar?

Sorriu mais uma vez, despedindo-se das amigas do trabalho. Nunca sorriu tanto, e nunca com sorrisos tão sinceros como esses que soltava em Ouro Verde.

Esperou do outro lado da praça. Passou pelo imenso sino, lembrando-se da história que Dona Ana contou, não estava presente para ouvir os badalar do sino naquele início de ano, mas gostaria muito de ouvir. Ela sentou no banco da praça. Olhando o pequeno prédio de dois andares pintado de branco. Não tinha nome, mas um pequeno jardim ficava em frente a parede da entrada. Encostou no banco, levantando o rosto para sentir a brisa fria de Ouro Verde. Sua atenção foi voltada aos gritos que ouviu, quando abaixou a cabeça para olhar novamente para o prédio branco, viu as crianças saindo com os livros em mãos. Elas pulavam de alegria, algumas corriam para os braços dos pais, outras seguiam seu caminho, sozinhas. Mary saiu conversando com uma menina de sua idade. Ela mostrava a sua tiara para a menina, explicando as voltas que a mãe deu no tecido para ficar mais confortável na cabeça. Quando sua amiga se despediu e correu para os braços da mãe, Mary segurou sua tiara, lembrando dos dias que sua mãe lhe pegava na saída da escola, mas não se permitiu ficar triste, pois viu Amélia sentada no banco da praça. Correu, atravessando a rua para ir de encontro com sua irmã, sentindo o solavanco da sua bolsa bater em suas costas.

- Como foi a aula? - perguntou Amélia, que pegou Mary e colocou sentada no banco da praça.

- Foi ótima, nós aprendemos matemática.

- Que ótimo! - Amélia abriu o pacote, Mary sorriu ao ver o glacê dos doces como um pote de ouro escondido no mar. - Você quer?

A menina escolheu entre os doces, fazendo seu dedo rodar na caixa.

- Juliet gosta de morango, vou deixar as rosas para ela. - disse ela, pegando o primeiro doce de creme e colocando na boca.

Era um doce fofo com uma massa de pão, com cobertura de açúcar fina e um recheio de creme que escapou pelos lábios da criança. Ela não esperou o tempo de Amélia limpar sua boca, pegou outro doce para comer.

Amélia não conseguiu controlar a tentação ao sentir o cheiro dos doces, e pegou um para comer. Deliciou-se com o doce, mordendo-o no mesmo momento que a irmã.

- Ah, é o Paul. - gritou Mary, apontando para a cafeteria que Paul saia com a tia Rosali.

Amélia engasgou-se com o doce que comia. Virou o rosto para tossir.

Paul ouviu seu nome sendo pronunciado, mas não o suficiente para ver de onde era. Olhou de um lado para o outro.

Amélia tentava recuperar o doce que engoliu sem mastigar. Torcendo para que ele não apareça enquanto ela estava para morrer engasgada com um simples doce.

- Aqui, Paul! - Mary gritou novamente, sacudindo as mãos no ar.

E se Amélia já estava engasgada, sentiu o sangue-frio subir em sua cabeça enquanto a irmã gritava ainda mais pelo rapaz. Paul sorriu ao ver os finos braços de Mary balançando para o alto, chamando-o.

- Espere aqui, minha tia. - pediu ele.

Rosali bufou, abaixando o pé que já estava preparado para subir na carruagem, reclamaria da indelicadeza do sobrinho que correu para atender o chamado, mas quando viu para onde ele caminhava, e, principalmente, que a bela dama que já esteve em sua casa estava bem na direção que ele corria, Rosali sorriu. Deu dois tapas no ombro de Gregório.

Por Todas as Palavras Não Ditas - Série Amores Em Ouro Verde: Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora