"Às vezes, um abraço apertado de um amigo se torna o maior refúgio".
— Lady Anastácia Lumb
Naquele início de noite, o vento que mudara repentinamente, invadia aquele salão acolhendo ambos amigos em seus braços frios. Anastácia observou Matthew com atenção, e, por uma fração de segundos, notou que uma palidez tomou conta da face do homem cujos olhos azuis se arregalaram em um pânico evidente. Any pensou em perguntar o que se passou, mas logo o duque sorriu e voltou a agir com normalidade, como se nada tivesse ocorrido. Tal estranheza foi rapidamente esquecida quando ele questionou subitamente:
— Casaria comigo se eu não fosse seu amigo?
Any franziu o cenho, intrigada com aquela pergunta.— Óbvio que sim. Estaria no topo da minha lista de pretendentes e não desistiria até que eu o levasse ao altar. — respondeu, achando graça.
Matthew sorriu, mas o sorriso não alcançou o olhar.
— É realmente uma pena que sejamos amigos. Somos bons amantes, seríamos um ótimo casal. — Torceu os lábios um pouco receoso.
— Matthew! — repreendeu, Anastácia, inconformada. — Jamais diga isso novamente. Nunca me arrependi de sua amizade e jamais me arrependerei. Não faria nada ao contrário, agradeço todos os dias por ter conhecido você. Nenhum homem, seja ele meu marido ou não, será capaz de reduzir a importância que tens em minha vida, Matthew. Você sempre será metade de mim.
Matt forçou um sorriso, embora nada que Anastácia lhe dissesse poderia trazer alegria ao seu coração. Tê-la como amiga já não era o suficiente e uma tristeza enorme o invadia, quando se recordava que Any iria se casar com outro homem.— Lembra-se quando nos conhecemos? — perguntou, Matt, e Any assentiu com a cabeça concordando. — Eu era um menino baixinho e rechonchudo e você uma menina miúda, magrela, de enormes olhos verdes que pareciam duas esmeraldas. Éramos crianças, estávamos em uma festa destinada a arrecadar fundos para obras de caridade, os demais meninos estavam implicando comigo, como de costume, falando que eu era gordo, medroso e mimado. Fizeram uma roda, cercaram-me, depois me empurraram no lago e saíram gargalhando, zombando de mim. Você, que de longe assistiu aquela cena, correu até a margem e estendeu-me a mão. Meus olhos estavam marejados em lágrimas de humilhação e raiva. Tentei descontar toda minha frustração em ti, ingorando-a, fingindo que não estava lá. Então, ainda com a mão estendida, tão corajosa, você disse "vai ficar parado aí, ou vai se levantar para se vingar?". Embora você fosse tão pequena, sua voz soou tão forte e determinada. Encarei seu rosto tão sério, seu olhar obstinado e finalmente segurei sua mão. Naquele dia, atravessamos o lago, capturamos um punhado de sanguessugas e eu fiquei completamente admirado ao ouvi-la explicar sobre tais vermes, como uma pequena cientista, informando o quanto eram inofensivos e que a melhor forma de extrair do corpo era utilizando o fogo. Naquele momento, eu soube que você era a pessoa mais inteligente que eu conhecia. No final da tarde, pegamos os potes repletos de sangue-sugas, subimos em uma árvore e aguardamos pela minha vingança. Quando os meninos, exaustos, sentaram sobre a sombra daquela macieira, nós abrimos os potes e despejamos os vermes negros nas cabeças deles. Espantados e com medo, todos saíram correndo, gritando, chorando e nós, duas crianças levadas, apenas gargalhamos, satisfeitos, vingados. E foi ali, enquanto riamos sobre aquela árvore, o momento exato em que eu soube que você sempre faria parte da minha vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como Domar Uma Lady Selvagem
Fiction HistoriqueSINOPSE: No começo da temporada de casamentos em Londres de 1879, lady Anastácia Lumb, filha bastarda e supostamente a única herdeira do duque de Pennesburg, fugiu às pressas com seu melhor amigo, lorde Matthew Morrison, futuro duque de Hereford, pa...