Capítulo Três

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O espaço estava completamente lotado, o morro em peso estava no lugar, o cheiro de maconha, cigarro, droga, álcool, suor, predominava no local, podia apontar oito pessoas agora a minha frente que eu conhecia do morro. Até os mais velhos tinham ido. Com certeza não era apenas um baile, tinha alguma comemoração.

"Gabi, qual a comemoração da noite?" – Gritei em seu ouvido, por cima do funk que estrondava nas caixas de som.

"Pelo que eu fiquei sabendo, uma garota foi promovida a braço direito do dono do morro." – Ela quase sussurrou em meu ouvido, como se fosse  segredo. Assenti entendendo motivo. Caminhamos de mãos dadas até o bar, onde Gabi pediu duas doses de uma bebida que não conhecia.

"Não olha agora, mas Paloma está bem atrás de você." – Senti um arrepio pela espinha, havia meses que não sequer via Paloma e só de ouvir seu nome já sentia um incômodo. Discretamente olhei por cima dos ombros e a enxerguei, sorrindo com um copo de bebida na mão e conversando com uma garota, involuntariamente abaixei o olhar e suspirei. – "Ei amiga, não fica assim, sabe que foi melhor desse jeito, ela não era mulher pra você."

"Eu sei, estou bem Gabi, esquece isso, ok?" – Tento disfarçar pegando o copo de bebida que o garçom colocou no balcão a nossa frente, bebo e respiro fundo, controlando a vontade de fazer uma careta pela grande quantidade de álcool.

Gabriela é como a irmã que nunca tive, ela faz parte de toda minha vida, inclusive os piores momentos.

Quando conheci Paloma, tinha 15 anos, foi meu primeiro amor, apresentei ela a minha família, fiz ela ser parte de minha vida, pra no final ela esmagar meu coração. Ela era mais velha, um ou dois anos, ela se aproximou de mim, vinha me buscar todos os dias na escola, eu sentia que amava ela, sentia que realmente amava, tive minha primeira vez com ela, meu primeiro beijo, ela era simplesmente perfeita, carinhosa, brincalhona, responsável, minha vó amava ela, era tudo que o primeiro amor de uma garota tinha que ser, ficamos juntas quatro anos.

Até que... Depois de um tempo ela mudou, simplesmente se tornou outra pessoa, sumia do nada, não me respondia mais, passamos dias sem se ver, e eu finalmente não aguentei mais toda essa situação e fui procurar por ela, ela morava sozinha e eu tinha a chave, então entrei sem muita dificuldade e para minha surpresa ela estava na cama, deitada sob uma mulher que eu nunca nem vi no morro, o quarto imundo, cheio de droga e baseado.

"Que porra é essa? O que eu fiz de errado pra você fazer isso? PORRA PALOMA!"

Ainda conseguia lembrar de meus gritos como se fosse ontem, eu sentia tanta raiva, quis bater nela naquele dia, quis esmurrar a cara dela com toda força do meu corpo, mas a decepção, o nojo, o desgosto foi tão grande, que só consegui sair correndo dali e ir pra casa de Gabi. Eu chorei a noite inteira, chorei a semana inteira, o amor da minha juventude, a mulher que me entreguei por completo, tinha me traído. Aquele tinha sido o pior dia da minha vida, jamais esqueceria....

"Ei, vamos dançar, sem drama agora." – Ela estalava os dedos em minha frente para eu acordar dos meus pensamentos, sorri e concordei, levantamos deixando os copos no balcão, indo para a pista.

(...)

Não aguentava mais dançar, meus pés e braços já doíam, mas Gabi parecia que tinha acabado de chegar. Eu simplesmente não entendia como uma garota podia ser tão preguiçosa pra lavar um prato, mas pra descer e subir vinte vezes no baile tinha disposição pra dar e vender.

"Preciso molhar a garganta, vou até o bar!" – Grito em seu ouvido e ela concorda com a mão, sem parar de dançar. Reviro os olhos e dou as costas, caminhando até o bar. – "Duas doses de tequila, por favor!" – Grito para o garçom, que sai para preparar minha bebida. Espero por uns minutos e logo ele volta me entregando dois copos pequenos, viro o meu de vez e entrego o copo a ele de volta.

Amor De Bandido - Livro I | TrilogiaOnde histórias criam vida. Descubra agora