Capítulo Quatorze

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Quando eu terminei com Paloma, demorei meses pra voltar a ter algo por alguém, e mesmo assim eu nem sentia muita coisa, tive uns rolos lá e cá, mas nada muito grande ou interessante.

É foda sabe, você ter o coração partido, ficar desolada e depois agir como se nada tivesse acontecido, eu era sentimental demais pra isso, era expressiva demais pra conseguir ser assim, era como se meu coração e meu cérebro estivessem bloqueando qualquer sensação pra eu não me machucar de novo. E por um tempo eu gostei disso, me acostumei com isso, preferi até, essa situação me privou de me machucar muitas vezes depois da primeira desilusão. Fiquei com pessoas que mentiram pra mim, tentaram me iludir, me manipular, persuadir pra eu ser só mais uma otária. Mas eu tinha me transformado em uma pessoa tão fria e fechada pra qualquer sentimento amoroso, que elas que acabaram saindo como idiota.

Não me orgulho de agir assim, não é porque você foi machucado que deve machucar outras pessoas também, não se paga o mau com o mau, mas não me arrependo, perceber o quanto eu posso me proteger disso me fez amadurecer, crescer mentalmente. Me fez ser menos besta, menos dócil, menos iludida, as vezes eu balanço, pago de louca e vacilo, como naquele dia do baile com Paloma, mas eu sempre me ergo, sempre volto a ser o que me transformei, e sinceramente? Eu gosto do que sou hoje.

Mas apesar de toda essa marra que construi, eu venho estado em um grande conflito comigo mesma, provavelmente o morro inteiro já sabe mas, estou tendo alguma coisa com a sub do morro, vulgo Mendes, mas pra mim, apenas Sabrina; e isso tem me deixado bastante pensativa.

Eu nunca pensei em me envolver com algum bandido, traficante ou nada do tipo, não que eu considere eles uma raça a parte, eu só não compactuo com as atitudes deles, não concordo. Mas por ser filha de um, não tinha muito espaço de fala para julgar, não me permitia na verdade, até porque estaria ofendendo a pessoa que mais lutou por mim, mesmo que pelos caminhos errados, mas sinceramente estou ficando grilada com as coisas que estão acontecendo.

Sabrina, apesar de todos seus erros e sua vida incorreta, se mostrou alguém bem diferente do que aparenta, tipo, num nível surpreendente. De marrenta ela só paga com os cara da boca, porque com Alanna ou comigo, ela é completamente diferente. Brincalhona, engraçada, atenciosa, safada, entre outros adjetivos que poderia passar o dia todo citando, mas ocuparia muito meu tempo.

É estranho como as coisas acontecem de repente, um dia ela estava se apresentando para mim e no outro, simplesmente me buscando no trabalho pra me levar em casa, mesmo que eu demore apenas vinte minutos pra chegar a pé.

A cada dia me aproximo mais de Sabrina, ela se tornou uma coisa diária na minha vida, mesmo que seja apenas alguns minutos entre uma carona e outra, ela estava presente em todos os meus dias, e era uma coisa que eu não conseguia limitar, simplesmente acontecia. No primeiro dia que ela foi me buscar, estranhei, fiquei realmente surpresa, mas não consegui reclamar, não conseguia pedir que não vá, até porque eu não queria, estranhamente eu tinha gostado de vê-la me esperando, de surpresa, eu tinha gostado tanto que no dia seguinte eu a esperei, e ela apareceu, e me deixou mais feliz e ansiosa pelo dia seguinte, e o seguinte, e o seguinte. Nos dias que ela não podia avisava, mas quase sempre ia.

No segundo dia que foi me visitar em casa, novamente sem ser convidada ou avisar, fui pega de surpresa mais uma vez, estranhei a ousadia e liberdade mais uma vez, e novamente não pedi que não o fizesse, eu não queria que ela parasse, no fundo eu estava contente de estar sentindo algo, eu estava feliz. E essas surpresas vieram acontecendo mais e mais vezes, até que ela realmente fizesse parte do meu dia a dia, sem eu estranhar ou me surpreender.

Eu me sentia de volta a adolescência, ficava ansiosa por ver ela, esperando que ela fosse me visitar ou me buscar, e quando não o fazia porque não podia, me sentia imensamente decepcionada, mas não demonstrava, por mais errado que fosse, ela "trabalhava" e num local mais perigoso que o normal,  tinha que ter atenção e responsabilidade em dobro em questão de ordens, então tentava ser compreensiva a suas faltas, apesar de no fundo só querer que ela viesse me ver.

Amor De Bandido - Livro I | TrilogiaOnde histórias criam vida. Descubra agora