Monolito das Cinzas (Do Infinito Ao Zero, vol 1)

interlúdio 3: O Dilema

THYRSA

"O momento pede um dilema." – Quentin sorri de leve, o jovem parece apreciar tais momentos. Sua cabeça raspada nas laterais permanece impecavelmente liso, a cabeleira negra encaracolada no topo está crescendo na franja, e começa a cair sobre sua fronte.

"Gosto." – sua namorada Kalinka permanece ao seu lado, mas não estão de mãos dadas. Tiveram algum desentendimento talvez?

"Papai é tão inteligente. Hihi." – Heartley sendo ela mesma, como sempre, arrumando o longo cabelo loiro no seu rosto com aquele grande sorriso perfeito, prendendo as madeixas em duas xuxinhas.

"Vai blackzêra, manda um dilema bem cabeludo aí, irmão." - Dude está jogado no banco da igreja, o jovem teve um dia bem cansativo. Esteve treinando. Eu bem sei, porque eu fui sua treinadora pelas horas que passou.

BlackJack cumprimenta Dude de forma elaborada, como se faz na favela. Já Quentin é algo mais formal. As garotas são cumprimentadas mais respeitosamente, de longe, com um aceno. Kalinka oferece o rosto para ser beijada em cumprimento, mas ele o recusa. "Um beijo nunca é só um beijo." – Quentin oferece de graça sua sabedoria sem ter sido chamado no assunto.

Izab como sempre permanece quieta no seu hijab negro, a máscara de silicone na metade esquerda no rosto. Sentada ali no banco continua sempre devota ao Pirata da Noite. Rosetta arranjou uma peruca no mínimo curiosa: um black power ruivo. Diferente, e até que gostei do estilo. Contrasta bastante com suas feições nipoafricanas, sempre com sua beleza exótica. A goblin Kirlaki está inquieta balançando os pezinhos, pois é tão pequena que não alcança o chão. Juliet a novata usa um coque nos cabelos castanhos ondulados e roupas casuais largas, permanecendo ao lado da goblin.

Aijn permanece na porta, tornou-se uma leal confidente. E quando eu entro, estou já no meu hábito completo de freira. Acabei de sair do banho, e o cheiro do sabonete invade o salão.

"Uuuhh... se arrumou pro meu papai! Hihi!" – Heartley sempre provocando. Como pode inferir algo assim para uma freira? - "Isso é... perfume?" – os sentidos apurados de Rosetta captam... maldição. Sim, pus um pouco de perfume, qual é o problema? É proibido para uma freira, por acaso?

Juliet conta para Vallenchell mais sobre mim, ali quietinhas em sussurros. Espera... ela disse que tenho um crush no BlackJack?

"Vamos logo, Herói de Negro." – Quentin carrega um pouco no sarcasmo. Ele é sempre assim, demonstra um desprezo para com supers em geral. Heartley acha que é porque ele não tem poderes e tem inveja.

"Muito bem." – BlackJack pigarreia e se prepara para a lição do dia – "Um homem em situação de desespero forma amizade com uma garota. Ela o ajuda em tudo: lhe dá apoio, carinho, conselhos e movitação. Passando pela pior fase da vida com a ajuda da amiga, ele progride na vida, para de pensar em desespero e se torna uma pessoa melhor. Um dia, acaba por conhece-la e descobre que a amiga ajuda não só ele, mas muitas outras pessoas. Ela mantém um método e anotações sobre o progresso de cada um, tudo com a intenção de obter retorno financeiro dos bem-sucedidos, que acabam por ajuda-la em agradecimento, seja com recursos ou riquezas. Ela até mesmo se considera tendo um 'salário', tendo uma meta pessoal de lucro."

Quentin olha para Kalinka na mesma hora, que não retorna o olhar. Mas dá pra se ver a perturbação no rosto da moça. Dude faz o mesmo com Heartley, de um jeito bem forçado, mas a loira só exibe um imenso sorriso e o "hihi!" costumeiro.

"Pareceu uma indireta para a Thyrsa." – Rosetta fala casualmente, mas Black apenas sorri: "Sério? Nunca. Thyrsa é uma santa. Se não fosse por ela estaríamos todos aqui na dificuldade."

"E nunca ganhei nada com isso. Black até já me ofereceu, e recusei." – olho ironicamente com olhar acusador – "É um demônio tentador, mas permaneço resoluta."

Rosetta e Heartley se olham de um jeito cúmplice, escondendo sorrisos bem maliciosos. Disse alguma coisa errada? Até Aijn a glurglia esconde a cara.

"O que é mais importante: os feitos ou as intenções? Ela é uma pessoa bondosa ou uma oportunista? Seus feitos e a ajuda que presta as pessoas, perdem validez por conta disso?"

"Rapaiz, nervoso esse dilema hein..."

"Os fins justificam os meios?"

"Sempre."

E a conversa continua. As malícias na minha direção se tornam oclusas, mas o dilema permanece. Mais um para que os jovens pensem a respeito e tirem suas conclusões. Eu nunca conseguiria pensar algo desse tipo... mas talvez eu seja pura demais – ao menos BlackJack assim o diz. Mas será que ele inventa os dilemas, ou são casos reais?