LV♦: Mão de Onze

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Favela Hoover, Represa Hoover, Nova Vegas – 09/30 m.0

Truco (cult.): este controverso jogo de cartas era comum na extinta nação pré-zerana Brasil, e agora está na lista-negra das parimenhas, sua prática declarada ilegal em qualquer parte daquela nação. Ainda assim, o jogo foi levado pela leva de imigrantes da primeira década que se instalou em Nova Vegas fugindo do governo parimenho, e ali ganhou grande notoriedade nos cassinos e no cenário noturno. Hoje, o truco está dentre um dos jogos mais bem conceituados e jogados, com torneios milionários - apesar de estar constantemente associado a práticas escusas. Ver: Parime (loc.), Êxodo Brasileiro (hist.), Truco (sup.)


DESÍGNIO


Carninha estalando mal passada ou bem passada, suquinho esguicha na boca quando mastiga. A molecada vem comer, as mãe dus muleke trazendo a piazada faminta. Tem carne pra cacete e a comunidade vem inteira pras ruas, puta festança da porra. O pagode já virou coisa séria – trouxeram caixa de som karai - tocando as tropistadas de um Brasil que faz parte só do passado agora. Só das nossas memórias.

Memórias.

BlackJack explica o jogo aos poucos pra Porkespinha e pra Coração. Quer dizer, a Heartley finge que tá prestando atenção mas ela parece que venera o Black. Tão vidrada fica no cara que parece um tipo de insanidade. E é, tá ligado. Geral sabe que ela é doida, e mesmo o Black tranquilizando geral que ela não é uma ameaça ninguém parece muito convencido disso, tá ligado.

Três tento pros Butekim. A zero. O time dos Supers começa a bater desespero que tão no zero ainda – Reativo faz brotar um campo de força meio amarelado... preocupação? O cara se controla com a clinka descendo gelada goela abaixo: breja gelada, santo remédio. O campo de força craquela e desaparece.

"Cê tá ligado que pelas leis da urbe, essa menina pode ser condenada né? A readoção, no mínimo. Pro lar que a Non escolher." – a conversa começou inocente na Heartley mas foi evoluindo. Alguém perguntou se ela tinha pai, família, onde passou esses dois anos...

E a doida só no "Hihi!" – caralho essa porra me dá nos nervos!!

Coração mantém o tempo todo a história que o pai dela é o BlackJack mesmo, e o tom de insanidade na voz faz com que ninguém acredite. Mas ela sempre contou isso pra todo mundo nesses últimos anos. É, eu sei onde ela teve nesses anos né: lá no Convento Cassino sendo treinada e educada pela Thyrsa e pelo Black. E eu ajudando onde posso.

Aí no fim tio Jorge mandou essa daí no que o Black fechou a mão e mandou no tom mais sombrio que um dia ensolarado com churras, breja, pagode e a mulekada berrando em volta permitem:

"A Non nunca vai encostar um dedo nela."

Os Supers marcaram um tento, o que quer dizer que saíram do zero. Geral casca o bico de alívio pois não precisam mais passar em baixo da mesa se perderem. Butekim 3 x 1 Supers. E aí tio Jorge pede truco de novo.

Black manda sinal de zap pro Robin: uma leve piscadinha de olho. Mas o tio Jorge é ligeiro demais e pegou o sinal. Ninguém sabe que ele captou o sinal, só eu. Por baixo da mesa tio Jorge passa sinal pro Mazinho encostando no pé dele com o seu próprio – sinal secreto.

Pois é, truco é jogo de trapaça mesmo tá ligado? Jogo de ladrão, de malandro da favela, trapacear no jogo é meio que permitido tá ligado? Quer dizer, não é, mas pode.

Black tá pronto pra aceitar a rodada e o Reativo incentiva: "Bora, porra! Cai aí, Caneco!"

Caneco já começa com um pica-fumo, a rodada vem baixa até chegar no Black:

Monolito das Cinzas (Do Infinito Ao Zero, vol 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora