82. Os três auxiliares do generalíssimo

3 0 0
                                    

Na sequência que haviam combinado, Athos e Aramis, saindo do hotel Grand-Roi-Charlemagne, dirigiram-se ao palacete do sr. duque de Bouillon.

Era uma noite escura e, apesar de serem horas normalmente silenciosas e solitárias, ouviam-se ainda ressoar aqueles mil ruídos que despertam em sobressalto as cidades sitiadas. A cada passo havia barricadas, a cada esquina correntes esticadas, a cada encruzilhada acampamentos improvisados de soldados. Patrulhas encontravam-se e gritavam suas senhas, mensageiros enviados pelos diferentes chefes iam de um lado para outro e, além disso, discussões animadas, sinal da efervescência social, agitavam os habitantes pacíficos, que se mantinham em suas janelas, e aqueles mais belicosos, que corriam às ruas de alabarda no ombro ou arcabuz debaixo do braço.

Athos e Aramis não deram cem passos sem que fossem parados pela sentinela de uma barricada, que pediu a senha. Eles responderam estar indo à casa do sr. de Bouillon para dar uma notícia importante. Foi-lhes oferecido um guia, que, a pretexto de facilitar a passagem por novas barreiras, na verdade os vigiava. O homem tomou a frente e ia cantando: "Nosso bravo sr. de Bouillon/ Sofre de gota." Era um triolé bem recente, composto de não sei quantas estrofes, com cada chefe recebendo o seu quinhão. 479

Chegando às proximidades do palacete, passaram por três cavaleiros que conheciam todas as senhas do mundo, pois iam sem guia nem escolta e, nas barricadas, apenas diziam as palavras certas e deixavam-nos passar, com toda a deferência que mereciam por sua condição social. Ao vê-los, Athos e Aramis pararam.

— Eh, eh! Viu isso, conde? — perguntou Aramis.

— Vi sim.

— O que acha desses três cavaleiros?

— E você, Aramis?

— São os nossos homens.

— Os próprios. Reconheci perfeitamente o sr. de Flamarens.

— E eu o sr. de Châtillon.

— Já o cavaleiro de capa marrom...

— É o cardeal.

— Ele mesmo.

— E como se arriscam a vir tão perto do palacete de Bouillon? — perguntou Aramis.

Athos sorriu, mas nada disse. Cinco minutos depois, eles batiam à porta do príncipe.

A entrada era guardada por uma sentinela, por se tratar de uma autoridade superior. Um pequeno posto de guarda inclusive era mantido no pátio, pronto para obedecer às ordens do auxiliar direto do sr. príncipe de Conti.

Como diziam os versos, o sr. duque de Bouillon sofria de gota e estava acamado. Apesar da grave indisposição, que o impedia de montar a cavalo há um mês, ou seja, desde que Paris estava sitiada, ele se dispôs a imediatamente receber os srs. conde de La Fère e cavaleiro d'Herblay.

Os dois foram conduzidos até o doente, que estava em seu quarto, deitado, mas cercado do aparato mais militar que se possa imaginar. Por todo lugar, e pendurados nas paredes, viam-se espadas, pistolas, couraças e arcabuzes. Era fácil de se prever que, assim que se livrasse do mal que o afligia, o sr. de Bouillon daria muito trabalho aos inimigos do Parlamento. Enquanto isso, para o seu pesar, como ele dizia, era forçado a se manter de cama.

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora