91. O braço e o espírito (continuação)

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Porthos aproximou-se da janela, pegou uma das barras com as duas mãos, agarrou-a bem, puxou e dobrou-a como um arco, fazendo com que as duas pontas saíssem da pedra em que há trinta anos o cimento as mantinha fixadas.

— Veja só, meu amigo — cumprimentou-o d'Artagnan —, isso é obra que o cardeal, por mais gênio que seja, nunca conseguiria realizar.

— Arranco as outras?

— Não é preciso, essa já basta; um homem pode passar pelo espaço que se abriu.

Porthos tentou, passando o tronco inteiro para fora.

— Pode sim.

— Com certeza. É uma bela abertura. Agora passe o braço.

— Por onde?

— Pela abertura.

— Por quê?

— Logo vai saber. Passe.

Obediente como um soldado, Porthos passou o braço entre as barras.

— Perfeito! — aplaudiu d'Artagnan.

— Tudo funcionou bem?

— Às maravilhas, amigo.

— Bom. E agora, faço o quê?

— Nada.

— Acabou?

— Ainda não.

— Eu queria entender o que está acontecendo.

— Ouça, meu amigo, e com duas palavras vai saber de tudo. A porta do posto está se abrindo, como pode ver.

— Estou vendo.

— Vão enviar para o nosso pátio, que o sr. de Mazarino atravessa para ir à estufa, os dois guardas que o acompanham.

— Já estão saindo.

— Tomara que fechem a porta do posto. Ótimo, fecharam!

— E agora?

— Vamos ficar em silêncio, eles podem ouvir.

— Não vou saber de nada, então.

— Claro que vai, pois, à medida que agir, entenderá.

— Mas preferiria... 

— Terá o prazer da surpresa.

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora