Depois de deixar Ana da Áustria, Mazarino retomou o caminho de Rueil, onde estava morando. Naqueles tempos agitados, ele andava sempre acompanhado e muito frequentemente disfarçado. Trajando roupas de homem de espada, já dissemos, o cardeal parecia um belo fidalgo.
No pátio do antigo castelo, 513 ele tomou uma carruagem e atravessou o Sena em Chatou. O sr. Príncipe dera-lhe como escolta cinquenta guardas do rei, nem tanto para protegê-lo, mas para mostrar aos deputados o quanto os generais da rainha podiam tranquilamente dispor de suas tropas a seu bel-prazer.
Athos, conduzido de perto por Comminges, a cavalo e sem espada, seguia o cardeal sem nada dizer. Grimaud, deixado à porta do castelo, ouvira o aviso gritado da janela para Aramis e, seguindo um sinal de seu amo, foi para junto do cavaleiro, no pátio, como se nada houvesse acontecido e sem nada dizer.
É verdade que, depois de vinte e dois anos servindo ao conde, já o vira se safar de tantas enrascadas que nada mais o preocupava.
Logo depois da audiência, os deputados tomaram o caminho de Paris, o que quer dizer que iam cerca de quinhentos passos à frente do cardeal. Athos, então, olhando à sua frente, podia ver as costas de Aramis, cujo cinturão dourado e postura elegante facilmente o identificavam no meio de toda aquela multidão. Ou talvez seus olhos tenham logo se fixado nele pela esperança de liberdade, pelo hábito, pela convivência e pela espécie de magnetização que resulta da amizade.
Aramis, pelo contrário, não parecia minimamente preocupado em saber se o amigo o seguia ou não. Uma única vez ele olhou para trás, é verdade que já chegando ao pequeno castelo fortificado que guardava a ponte e era governado por um capitão da rainha. Achou que Mazarino talvez deixasse ali seu novo prisioneiro. Mas não foi o que aconteceu e Athos atravessou Chatou ainda na companhia do cardeal.
Na bifurcação que separava os caminhos de Rueil e Paris, Aramis novamente se virou. Dessa vez suas previsões não o enganaram, com Mazarino tomando a direita, e ele pôde ver o prisioneiro desaparecer por trás das árvores. Na mesma hora e movido por idêntico pensamento, Athos também olhou, os dois trocaram um discreto gesto com a cabeça e Aramis levou um dedo à aba do chapéu, como se o cumprimentasse. Apenas Athos entendeu ser um sinal de seu companheiro para dizer que já havia um plano.
Dez minutos depois, Mazarino entrava no pátio do castelo que Richelieu havia preparado para si em Rueil.
No momento em que descia da carruagem junto à escadaria externa, Comminges foi até ele:
— Monsenhor, onde devemos deixar o sr. de La Fère?
— No pavilhão da estufa, de frente para o corpo da guarda. Quero tratar bem do sr. conde de La Fère, mesmo sendo prisioneiro de Sua Majestade, a rainha.
— Ele pede, monsenhor, a bondade de ser levado para junto do sr. d'Artagnan, que ocupa, por ordem de Vossa Eminência, o pavilhão de caça à frente da estufa.
Mazarino pensou por um momento.
Vendo que ele estava em dúvida, Comminges continuou:
— É um posto de guarda bem seguro, com quarenta soldados experientes, quase todos alemães e, consequentemente, sem qualquer relação com os rebeldes ou qualquer interesse na Fronda.
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Vinte Anos Depois (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e Ilustrada
AventuraAtendendo a pedidos, a Zahar lança Vinte anos depois, a continuação das aventuras de d'Artagnan, Porthos, Athos e Aramis! Com sua inigualável habilidade narrativa, costurando magistralmente história e ficção, Alexandre Dumas delicia o leitor com nov...