92. As masmorras do sr. de Mazarino

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Chegaram à porta pela qual Mazarino havia desaparecido, estava trancada. Inutilmente d'Artagnan tentou abri-la.

— É onde vamos ter que apelar para seus ombros, amigo Porthos. Abra, mas com suavidade, sem fazer barulho. Não saia derrubando nem arrancando tudo, só abra.

Porthos apoiou o ombro vigoroso contra um dos lados da porta dupla, que cedeu, e d'Artagnan então passou pela brecha a ponta da espada, entre a lingueta e a casa da tranca. A lingueta correu e a porta se abriu.

— Já lhe disse, Porthos: das mulheres, como das portas, tudo se consegue pela brandura.

— O amigo não passa é de um grande moralista, isso sim.

— Em frente.

Entraram. Atrás de uma vidraça, à luz da lanterna do cardeal, deixada no chão no meio da galeria, viam-se as laranjeiras e romãzeiras do castelo de Rueil, alinhadas em compridas filas e formando uma grande alameda central e duas outras menores, laterais.

— Nada do cardeal, somente a lanterna. Onde pode ter se metido? — perguntou-se d'Artagnan.

Explorando uma das aleias laterais, tendo feito sinal para que Porthos explorasse a outra, ele viu, à sua esquerda, uma caixa de terra afastada de sua fileira e, no lugar dessa caixa, um buraco escancarado.

Dez homens, só com muita dificuldade, teriam movido aquela caixa, mas algum mecanismo a havia feito girar, junto com a laje que a sustentava.

Como dissemos, d'Artagnan viu um buraco nesse lugar e, nesse buraco, degraus de uma escada em caracol.

Ele chamou Porthos com um gesto, mostrou o buraco e os degraus.

Os dois se entreolharam assombrados.

— Se fosse só ouro o que queremos — disse baixinho d'Artagnan —, estaríamos feitos, ricos para sempre.

— Por quê?

— Não vê que lá embaixo, muito provavelmente, está o famoso tesouro do cardeal, de que tanto se fala? Basta descer, esvaziar um baú, fechar dentro o cardeal bem trancado e ir embora levando o que pudermos carregar de ouro e colocando de volta a laranjeira. Ninguém no mundo viria nos perguntar de onde vinha a nossa fortuna, nem mesmo o cardeal.

— Seria um belo golpe para aventureiros comuns, mas indigno de dois fidalgos, tenho a impressão — disse Porthos.

— É também a minha. Aliás, eu disse "Se fosse só ouro...", mas queremos outra coisa.

Naquele mesmo instante, com d'Artagnan mergulhando a cabeça no subterrâneo, um som metálico e seco como o que faz um saco de ouro que se remexe veio a seus ouvidos. Ele sentiu um arrepio. Logo em seguida uma porta se fechou e os primeiros reflexos de uma claridade apareceram na escada.

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora