78. Fatality 460

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Com efeito, mal d'Artagnan terminou de dizer aquelas palavras, ouviu-se um assobio na faluca, que começava já a se perder na bruma e na escuridão.

— Como podem imaginar, isso é um sinal, com um significado — continuou o gascão.

Nesse momento, pôde-se ver uma lamparina brilhar no convés, formando sombras atrás dela.

De repente, um grito, um grito de desespero atravessou os ares. Como se esse grito houvesse afastado as nuvens, o véu que cobria a lua se desfez e todos na chalupa puderam ver, contra o horizonte prateado por pálida claridade, o velame cinzento e os cabos escuros da faluca.

Sombras corriam desordenadamente no navio e gritos tremendos acompanhavam essa confusão.

No meio dos gritos, apareceu, no alto da popa, com uma tocha na mão, Mordaunt.

As sombras em tumulto eram as de Groslow e seus homens, reunidos na hora marcada por Mordaunt. Este último, depois de colar o ouvido à porta da cabine, nada ouvindo achou que os franceses dormiam e descera ao porão.

De fato, quem poderia imaginar o que havia acabado de acontecer?

Lá embaixo, Mordaunt abriu a porta do compartimento e foi até a mecha, agitado como sempre está quem é dominado pelo desejo de vingança e seguro de si como aqueles a quem Deus obnubila. Foi como ele ateou fogo ao enxofre.

Enquanto isso, Groslow e seus marinheiros reuniam-se na popa.

— Icem a corda — ele comandou — e aproximem a chalupa.

Um dos homens passou a perna por cima da mureta, pegou o cabo e puxou, sem resistência alguma na ponta.

— O cabo se partiu! — ele gritou. — Não temos mais o bote.

— Como, não temos mais o bote? — exclamou o capitão, correndo até a borda. — É impossível!

— Mas assim é — disse o marujo. — Veja o senhor mesmo, nada à ré. Aliás, aqui está a ponta do cabo.

Foi quando Groslow deu o rugido que os mosqueteiros puderam ouvir.

— O que está havendo? — alarmou-se Mordaunt, saindo da escotilha e correndo também para a popa, com a tocha em punho.

— O que está havendo é que os inimigos não só escaparam, mas cortaram a corda e fugiram com o bote.

Num pulo, Mordaunt chegou à porta da cabine, que ele derrubou com um pontapé.

— Ninguém! Malditos demônios!

— Vamos atrás deles — disse Groslow. — Não podem estar longe. Vamos afundá-los.

— Mas o fogo! — disse Mordaunt. — Eu pus fogo!

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora