93. Conferências

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Mazarino acionou a tranca de uma porta dupla, junto à qual já se encontrava Athos, pronto para receber o ilustre visitante, informado que fora por Comminges.

Vendo Mazarino, inclinou-se.

— Vossa Eminência poderia ter dispensado seus acompanhantes. A honra que me faz é grande demais para que eu a esqueça.

— Sua Eminência, meu caro conde — disse d'Artagnan —, de forma alguma queria nossa companhia. O sr. du Vallon e eu tivemos que insistir, talvez até de maneira indelicada, pois grande era o nosso desejo de vê-lo.

Ouvindo aquela voz e o tom debochado, além do gesto tão familiar que acompanhava essas duas expressões, Athos deu um pulo de surpresa.

— D'Artagnan! Porthos!

— Em pessoa, caro amigo.

— Em pessoa — repetiu Porthos.

— O que significa isso? — perguntou o conde.

— Significa — respondeu Mazarino, tentando, como já foi dito, sorrir, mas mordendo os lábios para isso —, significa que os papéis se inverteram e, em vez de serem, esses cavalheiros, meus prisioneiros, sou eu prisioneiro deles. Tanto que aqui estou, forçado de me submeter à lei, sem poder impô-la.

Porém, senhores, aviso que, a menos que me degolem, essa vitória é de pouca duração, chegará a minha vez, virão...

— Ah, monsenhor! — cortou d'Artagnan. — Sem ameaças, é um mau exemplo. Estamos sendo tão gentis e agradáveis com Vossa Eminência! Vamos deixar de lado qualquer mau humor, afastar todo rancor e conversar civilizadamente.

— É tudo que peço, cavalheiros, mas no momento de discutir meu resgate, não quero que creiam ter uma posição melhor do que têm. Prendendo-me aqui, estão presos também. Como sairão? Vejam essas grades, vejam essas portas, vejam, ou melhor, imaginem as sentinelas por trás dessas portas e grades, a quantidade de soldados nos pátios e, então, negociemos. Pronto! Vou dar uma prova de que estou sendo leal.

"Lá vem ele", pensou d'Artagnan, "vai querer aprontar alguma coisa."

— Ofereci a liberdade aos senhores e isso se mantém. Não querem? Em menos de uma hora serão descobertos, presos, forçados a me matar, o que será um crime hediondo e totalmente indigno dos leais fidalgos que são.

"Ele tem razão", pensou Athos. E como apenas nobres pensamentos brotavam em sua alma, esse pensamento se refletiu nos olhos.

— O fato é — acrescentou d'Artagnan, para corrigir a esperança que a adesão tácita de Athos havia dado a Mazarino — que só chegaríamos a essa violência como último recurso.

— Se, pelo contrário, me deixarem ir — continuou Mazarino —, aceitando a liberdade...

D'Artagnan o interrompeu:

— Como podemos aceitar a liberdade, se monsenhor pode nos tomá-la de volta, como disse, cinco minutos depois de concedê-la? E por tudo que sei de monsenhor, é o que faria.

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora