30. Quatro velhos amigos se preparam para um encontro

4 0 0
                                    

— E então? — perguntou Porthos, sentado no pátio do hotel La Chevrette, a d'Artagnan, que, sorumbático, voltava do Palácio Cardinalício. — E então? Foi mal recebido, meu bravo amigo?

— Como não podia deixar de ser! Realmente, é um bicho bem feio, aquele homem! O que está comendo, Porthos?

— Ah, veja só! Mergulho um biscoito num xerez. Faça isso.

— Tem toda razão. Gimblou, um copo!

Aquele que atendia por nome tão harmonioso trouxe o copo solicitado e d'Artagnan se sentou ao lado do amigo.

— Como se passaram as coisas?

— Diabos! Você sabe que não havia muita escolha quanto à maneira de contar o que aconteceu. Entrei, ele me olhou de lado, dei de ombros e soltei:

"— Bom, monsenhor, não fomos muito bem. "— Disso já sei, mas conte os detalhes.

"Você entende, Porthos, eu não podia contar os detalhes sem mencionar nossos amigos e se o fizesse eles estariam perdidos."

— Com certeza!

— Monsenhor — continuei —, eles eram cinquenta e nós somente dois.

"— Não impede que tenha havido troca de tiros, pelo que ouvi dizer.

"— É fato que de ambos os lados se queimou alguma pólvora.

"— E as espadas? Viram o dia? — ele perguntou. "— Monsenhor quer dizer a noite — respondi.

"— Ah! — continuou o cardeal. — Não é gascão, meu caro?

"— Só quando ganho, monsenhor. "A resposta agradou, pois ele riu.

"— Isso mostra que preciso dar cavalos melhores a meus guardas. Se pudessem tê-los acompanhado, e tivessem se comportado como o senhor e o seu amigo, teriam mantido a promessa e trazido o duque, morto ou vivo."

— Bom! Isso dá a impressão de, no final, não ter sido tão mau — observou Porthos.

— Pode ser, meu amigo! O problema é a maneira como as coisas são ditas. Caramba, que incrível! — interrompeu-se d'Artagnan. — Como esses biscoitos chupam o vinho! Uma verdadeira esponja! Gimblou, outra garrafa.

A garrafa veio com uma rapidez que mostrava o grau de consideração de d'Artagnan na casa. Ele continuou:

— Eu então já me retirava, mas ele me chamou:

"— Vocês perderam três cavalos mortos ou exauridos, não é verdade? — ele perguntou.

"— É verdade, monsenhor.

"— Quanto valiam?"

— Ora! — animou-se Porthos. — É um ótimo sinal, não?

— Mil pistolas — respondi.

— Mil pistolas? — surpreendeu-se Porthos. — Ai, ai! É muito! Por menos que ele conheça cavalos, deve ter regateado.

— Era mesmo essa a intenção do canalha, pois levou um susto e olhou para mim. Sustentei o olhar, ele entendeu e, enfiando a mão num armário, tirou notas do banco de Lyon. 275

— Referentes a mil pistolas?

— Mil pistolas! Exatas, o safado! Nenhuma a mais.

— Está com elas?

— Aqui no bolso.

— Ora! Acho que foi bem correto — disse Porthos.

— No limite! Se pensarmos que não só acabávamos de pôr em risco nossa pele, mas havíamos também prestado um grande favor.

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora