89. O espírito e o braço (continuação)

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— Viu só? — esbravejou Porthos. — Carneiro!

— Caro sr. de Comminges — disse d'Artagnan. — Meu amigo, o sr. du Vallon, está decidido a ir aos mais radicais extremos se o sr. de Mazarino insistir em alimentá-lo apenas com esse tipo de carne.

— Inclusive declaro — acrescentou Porthos — que não comerei mais nada se não levarem isso embora.

— Levem o carneiro — disse Comminges —, quero que o sr. du Vallon ceie agradavelmente. Ainda mais porque tenho uma notícia que, tenho certeza, vai lhe trazer de volta o apetite.

— O sr. de Mazarino morreu? — perguntou Porthos.

— Não. E infelizmente posso dizer que passa muitíssimo bem.

— Que chato! — lamentou Porthos.

— E que notícia é essa? — perguntou d'Artagnan. — Notícia é iguaria tão rara numa prisão que o senhor há de desculpar, não é?, minha impaciência. Sobretudo porque deixou transparecer tratar-se de uma notícia boa.

— Não lhe agradaria saber que o sr. conde de La Fère está bem? — respondeu Comminges.

Os olhinhos de d'Artagnan se arregalaram.

— Agradaria? Muito mais que isso, ficaria muito feliz.

— Pois ele me encarregou de cumprimentá-los da sua parte e dizer que está com boa saúde.

D'Artagnan quase deu um pulo de alegria. Uma rápida olhada para Porthos resumiu seu pensamento: "Se Athos sabe onde estamos, se está nos fazendo falar, é porque em pouco tempo vai agir."

Porthos não era tão hábil em decifrar olhares, mas dessa vez, como o nome de Athos causou nele a mesma impressão que em d'Artagnan, ele compreendeu.

— Então — perguntou timidamente o gascão —, o sr. conde de La Fère o encarregou de todos esses cumprimentos para o sr. du Vallon e para mim?

— Isso mesmo.

— O senhor, então, esteve com ele?

— Evidentemente.

— Onde? Sem querer ser indiscreto.

— Bem perto daqui — sorriu Comminges.

— Bem perto daqui! — repetiu d'Artagnan, com os olhos brilhando.

— Tão perto que se as janelas que dão para a estufa não tivessem sido tapadas o senhor o veria do lugar em que se encontra.

"Está rondando em volta do castelo", pensou o mosqueteiro, que, em seguida, perguntou:

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora