83. O combate de Charenton490

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À medida que Athos e Aramis seguiam, passando pelos diversos regimentos que avançavam pela estrada, começaram a ver couraças lustrosas e brilhantes no lugar das armas enferrujadas da retaguarda, assim como mosquetões luzidios em vez de alabardas desiguais.

— Acho que será este o verdadeiro campo de batalha — disse Aramis. — Veja aquele corpo de cavalaria distribuído em frente à ponte, de pistola em punho. Ah, cuidado! Um canhão está sendo posicionado.

— Eh, meu caro! Olhe só onde nos meteu. Tenho a impressão de reconhecer à nossa volta oficiais das tropas reais. Não é o próprio sr. de Châtillon que se aproxima, ali, com dois artilheiros?

Dizendo isso, Athos levou a mão à espada, enquanto Aramis, achando de fato ter ultrapassado os limites do campo parisiense, procurou suas cartucheiras.

— Bom dia, senhores — disse o duque, chegando perto deles. — Vejo que não estão entendendo o que está acontecendo. Posso rapidamente explicar. Há uma conferência: o sr. Príncipe, o sr. de Retz, o sr. de Beaufort e o sr. de Bouillon discutem política. Então, das duas uma: ou não se entendem e nós nos encontramos, cavaleiro, ou se entendem e, como estarei livre do meu posto de comando, nos encontramos de qualquer maneira.

— O senhor se exprime maravilhosamente bem. Permita-me então uma pergunta.

— Pois não.

— Onde se encontram os plenipotenciários?

— Em Charenton, na segunda casa à direita, de quem vem de Paris.

— E essa tal conferência, não estava prevista?

— Não, senhores. Resultou, tudo indica, de novas propostas que o sr. de Mazarino fez, ontem à noite, aos parisienses.

Athos e Aramis se entreolharam rindo. Melhor do que ninguém, sabiam dessas propostas, a quem foram feitas e por quem.

— E essa casa em que estão os agentes diplomáticos — perguntou Athos —, pertence...?

— Ao sr. de Clanleu, 491 que comanda as tropas dos senhores em Charenton. Digo dos senhores por supor que sejam frondistas.

— Hum... mais ou menos — disse Aramis.

— Como assim, mais ou menos?

— Bem... o senhor sabe melhor que ninguém que nos tempos que correm não se pode ter muita certeza do que somos.

— Somos a favor do rei e dos srs. príncipes — disse Athos.

— Seria preciso nos entendermos sobre o que isso significa — disse Châtillon. — O rei está conosco e tem como generalíssimos os srs. de Orléans e de Condé.

— É verdade — retrucou Athos —, mas o lugar de Sua Majestade é ao nosso lado, com os srs. de Conti, de Beaufort, de Elbeuf e de Bouillon.

Vinte Anos Depois  (Alexandre Dumas) - Edição Comentada e IlustradaOnde histórias criam vida. Descubra agora