Reencontro com o Passado

1. Busca por um recomeço

Maraisa Pereira, de 25 anos era formada em marketing. Vivia em uma grande cidade do Brasil, e saiu de casa dos pais, quando foi estudar para a universidade. Ela tinha deixado o seu antigo emprego em uma empresa tóxica e em que a sua opinião nunca era valorizada por, além de ser nova, ser mulher. Ela odiava o mundo machista em que vivia e não se inibia de lutar pelo feminismo, pela sororidade, e pela igualdade de género, além de todas as causas relacionadas com as diferentes orientações sexuais. Ela era, assumidamente, bissexual. Há bastante tempo que não tinha uma relação séria e duradoura, não sentia que alguém a preenchesse.

Neste momento, a morena, baixinha, com os olhos expressivos e um sorriso encantador, estava na busca por um novo trabalho, em que não sentisse que era inferiorizada de forma nenhuma. Apesar de não ter uma rotina de trabalho, nesse momento, a morena acordou cedo, nesse dia, colocou a sua roupa desportiva e foi correr pelas ruas da cidade onde vivia.

Deixou nos auscultadores a sua playlist favorita e correu por algum tempo. Nos seus pensamentos, estava o momento que vivia, na busca pelo novo emprego e que ainda não estava a surtir efeito. Mas ela não era mulher de desistir, e não se ia sujeitar a políticas e empresas com as quais não concordava, isso deixava-a com um leque mais pequeno que empresas onde podia estar, porque o mundo ainda era bastante machista. Algumas horas depois, e no final de uma bela corrida, e caminhada, voltou a casa.

Maraisa: Bom dia, Lari - sorriu ao ver a amiga a tomar o pequeno almoço

Lari: Bom dia, hoje madrugaste - sorriu ainda com cara de sono

Maraisa: Preciso de manter uma rotina, minimamente, normal - deu um beijo na cabeça da amiga e tirou uma maçã da mesa - vou tomar um banho para voltar à minha busca por um emprego

Lari: Vemo-nos ao jantar?

Maraisa: Super combinado - sorriu e piscou - bom trabalho, Lari

A morena foi até ao seu quarto, e tomou um banho não muito demorado. Quando terminou, deixou música a tocar enquanto cantarolava e dançava pelo quarto, e saiu depois para preparar o seu pequeno almoço. Sentou-se depois, na varanda da sala, com o computador na frente, onde passou o dia, a correr sites de procura de emprego, a enviar currículos e esperar por respostas. 

A tarde ia a meio quando ela se lembrou que não falava com os pais há algum tempo. A relação da morena com eles não foi a melhor de todas. Apesar de eles serem pais presentes, e de a terem sempre ajudado no que foi necessário, para que tivesse a oportunidade de estudar e ter uma vida sem dificuldades de maior, a verdade é que nunca foram pais atenciosos e carinhosos com ela, por razões que a mulher nunca entendeu. Tentou, por muito tempo, perceber o motivo de isso acontecer, e acabou até por se culpar, durante parte da vida. Cobrava muito a si própria, matava-se a estudar para ser dos melhores alunos das escolas que frequentou, frequentou atividades fora das aulas que a ajudavam no seu desenvolvimento, nunca deu problemas e grandes dores de cabeça, trabalhou desde cedo para conseguir ter dinheiro para os seus gastos extra e não essenciais, mas mesmo assim, sentiu sempre por parte deles uma frieza e distanciamento que a magoavam. Já mais adulta, tentou conversar com os pais, expôs os seus sentimentos e tudo aquilo que foi sentido ao longo da vida, mas essa conversa nunca surtiu efeito e o comportamento deles ficou exatamente igual. Já com distanciamento suficiente, a morena assumiu que foi uma gravidez não planeada, e que eles assumiram a filha, mas sempre a viram como alguém que não era bem vindo à sua vida e por isso, agiram sempre com a frieza de quem não nutre grandes sentimentos, mas assumiu a responsabilidade que a vida lhe deu.