Meses

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Um mês, exatamente um mês de gestação, me pergunto incansáveis vezes  a quanto tempo ele sabia que algo crescia em mim, não estou com barriga e nem mesmo tinha conhecimento de que é possível detectar uma gravidez tão recente. A dúvida e o medo por não saber como lidar com isso, estão me consumindo, queria que ele pudesse me falar que tudo ficará bem, mas a única coisa que sai de sua boca são grunhidos de sofrimento, queria que ele me abraçasse, mas seu corpo emana apenas espasmos fortes. Todos estão traçando planos para tira-lo dessa situação, mas sabemos que precisamos de tempo para uma nova troca, Théo está tentando se conectar com o Olímpio desde o minuto seguinte a possessão, mas não está conseguindo, implorei por meu pai, porém não obtive êxito.

- Vamos dar um jeito nisso_ Théo fala me tirando dos meus devaneios. Estou deitada ao lado de Jasper na cama.

- Eu sei, mas a cada insucesso nosso, mais ele sofre._ Falo lembrando das coisas horríveis que vi enquanto aquele maldito espirito estava em mim, sinto um calafrio e meu corpo se encolhe.   

- Estamos tentando_ Ele fala com pesar, sei que se culpa por não ter falado antes de Jasper. Não o culpo, mas ele sim e muito.

- Como está Boaz?_ Mudo de assunto, não quero deixar o momento pior do que já está. 

Além dos ferimentos nos olhos e ouvidos, Boaz teve parte de sua alma queimada, irá precisar de tempo para se recuperar, terá que se curar de dentro para fora. Eu já estou bem, me recuperei assim que Cacodaemones saiu, parte de mim foi devorada, porém uma nova vida me protegeu de danos maiores. Por isso temo por Jasper, cada minuto conta, cada minuto que passa leva consigo uma parte de sua alma e de quem ele é.

- Ele está bem, os ferimentos visíveis começaram a sarar, o que indica que ele está conseguindo se recuperar. _ Fico aliviada, foi corajoso de sua parte receber um Agatodaemones, é necessário muito poder para isso.

Dois meses e um mês da possessão de Jasper, ainda não tivemos avanços na troca, nenhum Daemon está disposto a nos ajudar e Cacodaemones não está interessado em nenhum de nós. O Olímpio continua em silêncio assim como meu pai. Continuo deitada ao lado de Jasper.

- Vamos a cidade hoje, preciso de alguns livros para pesquisas, estou pensando em uma possibilidade de nos comunicar com ele. _ Estou calada e Boaz prossegue -Podemos ajuda-lo a lutar contra ele e preservar sua alma, do mesmo jeito que Théo faria.

- Parece uma boa ideia_ Depois de muitas frustações ainda tenho esperanças.

- Quer alguma coisa?_ Fala para me animar.

- Será que tranquilizantes podem amenizar a dor?_ Olho para Jasper que se contorce em meus braços.

- Podemos tentar_ Pela sua voz percebo que ele acredita que isso não ajudará, mas concorda para dar um placebo a minha agonia.

Horas depois os três retornam cheios de sacolas, estou na sala, são raros os momentos que não estou no quarto, eles só acontecem quando não aguento ouvir seus gemidos de dor ou quando seu corpo se encolhe tanto que parece que seus ossos irão se quebrar.

- Trouxemos um presente para você_ Nolan me entrega um embrulho de papel.

Desfaço o laço e retiro um vestido azul claro da embalagem, é lindo e delicado, com flores bordadas no colo, a modelagem lembra um vestido de época, porém um pouco mais largo, parece ter sido caro. Não quero nem pensar o que fizeram para compra-lo.

- É lindo_ Aproximo de minha pele para ver se combina comigo. Abro um sorriso.

- Que bom que gostou_ Nolan retira mais um embrulho das sacolas e me entrega -Compramos um para o bebê também. O bebê, desfaço o sorriso, não tenho dado muita atenção a ele ultimamente, ás vezes até esqueço que o carrego em meu ventre. 

Sereia GregaOnde histórias criam vida. Descubra agora