Meses II

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Merlia...

Seis meses de gestação e cinco de, bem, não é preciso falar, estou esgotada, estou cogitando em leva-lo para um hospital, seu físico estava conservado mas a algumas semanas notei que está perdendo peso gradativamente. Isso não deveria estar acontecendo, não comigo, não com ele. Por que este sangue me presenteia com tantas desgraças? 

Minha barriga está grande e redonda, minhas roupas estão pequenas e já roubei todas as camisetas de Théo que poderia. Resolvo comprar algumas roupas para mim e para o bebê, estou começando a gostar da ideia de ter uma coisinha crescendo em mim, os meninos estão me ajudando com isso.

- O que acha desta aqui?_ Mostro um macacão amarelo para Nolan.

- Você realmente achou isso bonito?_ Me olha com a sobrancelha erguida -A criança vai se revoltar quando ver.

- Não precisa de tanto_ Rio do seu exagero.

- Podemos levar esse aqui!_ É um macacão amarelo com bordados lilás no colarinho.

- Vocês estão tão certos que é uma menina, se for menino vai se revoltar com vocês quando ver que só tem vestidos.

- É uma menina_ Diz covicto.

Também sinto que é uma menina, mas digo o contrário por pura implicância. Avisto o corredor de medicamentos ao lado e pego algumas vitaminas para Jasper, não sei se irá funcionar, mas espero que funcione, se ele não melhorar terei que tira-lo de casa.

Sete meses de gestação e seis meses de Jasper em estado vegetativo, me dói falar isso, mas agora estou levando ele às pressas para o hospital, tive que contestar muito com Théo e Nolan para leva-lo. Sei que é perigoso estar com ele fora daqui, porém não posso e não aguento mais perder-lo a cada dia.

- Irei leva-lo e ponto final, se quiser pode me acompanhar, mas deixo claro que a melhor opção é Boaz. _ Levo a mão aos cabelos e respiro fundo, não quero passar o que estou sentindo para o bebê.

- Por que ele? _ Théo me olha desacreditado.

- Porque posso criar um feitiço de proteção_ Traz a tona a explicação mais óbvia do planeta.

- Do jeito que estou, seria capaz de matar até Zeus se tentasse contra a vida de Jasper ou do meu filho. _ Digo friamente e após fechar a boca percebo que fui extremamente honesta em cada palavra, tiraria forças de qualquer lugar para protegê-los.

Coloco Jasper deitado no banco de trás, resolvo ir dirigindo para ter certeza que cheguemos ao hospital, Boaz no banco do passageiro me olha questionando se é uma boa ideia. Não deixo que pense nem por mais um segundo e ligo o carro já saindo, olho para Théo que protesta com a cabeça e Nolan segura seu braço quando ele se movimenta para frente.

- Toma cuidado! _ Nolan grita ao fundo e aceno com a cabeça dizendo "pode deixar".

Estava tão focada em chegar no hospital que nem admirei a paisagem de fim de tarde. Estaciono de forma abrupta na porta da emergência criando um pouco de drama para que ele seja atendido rapidamente.

Uma enfermeira que estava de plantão na emergência, corre em nossa direção assim que me vê descer do carro.

- O que houve?_ Diz analisando meu físico.

- Não é comigo_ Abro a porta de trás -É com meu namorado.

Ela pede uma maca para outra enfermeira e pede para que chame o médico da clínica. Em um piscar de olhos, Jasper já está na maca indo para sala de atendimento.

- O que houve com ele?_ O médico entra com estetoscópio para auscultar o coração de Jasper, com certeza deve ter achado que ele estava morto pelo estado que ele se encontra. Fico paralisada com sua pergunta, o que houve com ele? Como irei dizer o que houve com ele? Estava tão desesperada que nem pensei no que falar.

- Ele estava muito doente, mas se recusava a vir ao hospital porque não queria incomodar, mas hoje pela manhã ele não acordou quando chamamos para tomar suas vitaminas._ Boaz fala olhando fixamente nos olhos do médico para passar confiança.

O médico finge ignorar a exclusão de Boaz e dá os comandos a enfermagem.

- Coloque ele no soro, está muito desidratado, põe em monitoramento também e leve com urgência para U.T.I. Quero que seja realizado um check -up completo nele e deixe claro que é com urgência.

As enfermeiras concordam já realizando o que lhes foram solicitado, tivemos que nos retirar da sala e abrir uma ficha para Jasper, mentimos sobre seus documentos e Boaz teve que fazer um feitiço para que a recepcionista acreditasse. Nos mandaram aguardar até o laudo médico. Três horas depois o médico retorna para nos atualizar sobre o caso.

- Como já estava visível, ele está com um caso grave de desnutrição e desidratação, não está respondendo nenhum comando neurológico e está em coma sendo monitorado por aparelhos, ele terá que permanecer internado.

Seu retorno não me causa nenhuma surpresa, já imaginava que falaria isso, o que me preocupa é não estar ao seu lado.

- Ele ficará assim por muito tempo?_ Pergunto me esquecendo o porque ele está assim.

- Ainda é cedo para ter certeza, nossa preocupação agora é em nutrir seu corpo para que ele se fortaleça para podermos avaliar melhor a questão neurológica. Pois ele possui atividade cerebral. _ Ele olha para minha barriga e depois para o meu rosto -E a senhora, está bem?

- Sim, estou, posso ficar com ele? _ Passo a mão na barriga para tranquilizar o doutor.

- No momento ele está em um quarto compartilhado, não é seguro para os outros pacientes a entrada de acompanhantes.

- Quando ele irá para um quarto particular?_ Falo deixando claro que não posso deixa-lo sozinho.

- Possivelmente amanhã pela manhã_ Diz posturado, transparecendo autoridade e seu ego médico me dar raiva.

- Ok, esperarei aqui. Obrigada! _ Sento em uma das cadeiras do corredor licalizada perto do setor da U.T.I

- Não será nada confortável para você e o bebê, recomendo que fique na sala de espera do segundo andar. Lá tem sofás._ Dá um leve sorriso e se encaminha ao balcão da engermagem.

Para qualquer um, sua recomendação foi uma gentileza, mas para mim foi como uma resposta educada a minha petulância. Se não estivesse trabalhando provavelmente teria dito "Vá logo para casa, sua louca".

- Vamos para a sala de espera_ Boaz fala processando tudo o que acabara de ouvir.

- Não, ela fica dois andar abaixo. Acho arriscado ficar tão longe. _ Arrumo minha postura sentindo o encosto duro da cadeira.

- Ok, vamos revezar então, eu fico aqui durante a noite enquanto você dorme lá em baixo e depois trocamos de manhã. _ Boaz me levanta da cadeira e aperta o botão do elevador.

Antes da porta do elevador fechar vejo Boaz se sentar na cadeira onde estava a poucos segundos atrás e avisto o médico ao fundo sorrindo para mim.

Sinto um arrepio nas costas e penso em voltar, mas o bebê se mexe em minha barriga e decido descansar por ele. A sala de espera, possui paredes brancas, sofás beges, uma pequena mesa branca com um lindo vaso de flores e um cantinho de café.

Sento e aumento o ar condicionado, depois de alguns minutos olhando para a parede, uma enfermeira entra na sala.

- Trouxe um cobertor para você_ Diz olhando para os 24°C que deixei no ar condicionado.

- Muito obrigada!_ Pego o coberto branco e coloco sobre minha barriga.

- Quando estava grávida também sentia muito frio. _ Dá um sorriso materno -Quem está internado?

- Meu namorado_ Tento sorrir mas não consigo.

- Admiro sua devoção a ele, bom _Olha para os papéis em sua mão e se lembra que tem trabalho a fazer - Tenho que ir, pode deitar no sofá e encostar a porta, nenhum acompanhante utiliza essa sala de noite.

Desconfio, porém precisava descansar, encosto a porta e coloco dois copos descartáveis rasgados atrás dela para que faça barulho caso seja aberta. Deito no sofá e me enrolo na coberta.

Sereia GregaOnde histórias criam vida. Descubra agora