Água e fogo

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Tomo um banho para retirar os resíduos de ervas do meu corpo, passo a mão por minhas pernas para ter certeza de que são reais, elas estão de volta, mas ainda não estão muito fortes, sinto um pouco de dor ao firma-las no chão.

Durante o banho planejo numerosas maneiras de me vingar dos deuses, posso me vingar de tantas formas que tenho vontade de usar todas ao mesmo tempo e ainda assim não me contentar, por não ser o suficiente.

Pego uma camiseta que está jogada no quarto e deixo o casebre principal, passo por alguns semideuses que me olham sem acreditar que estou viva, devo ter virado o assunto por aqui, retribuo com um sorriso fraco e vou até o casebre de Théo.

 A porta está apenas encostada, entro, vejo Nolan e Théo dormindo abraçados como um casal, paro, meus sentimentos ficam divididos, em um misto de tristeza com sensação de ter sido traída e de alegria por saber que eles ficaram juntos durante o tempo que estive longe. Penso em deitar junto a eles, mas eu não tenho mais o meu lugar entre eles, não tem mais espaço para mim, agora é somente eles, não me sinto no direito de atrapalhar o momento deles e muito menos de desfazer aquele abraço que expressa todas as coisas que já quis de alguém: amor, proteção, confiança e paz.

-Eu demorei muito para voltar_ Choro enquanto admiro cada um deles com melancolia até ter forças para  deixa-los. 

Fecho a porta  secando as lágrimas insistentes do meu rosto e bato de frente com Jasper que me analisa.

- Você está bem?_ Ponderou por alguns segundos se essa era melhor pergunta a se fazer, ainda bem que a fez.

- Estou._ Sou curta, mas queria desabafar todo o meu caos.

- Mentirosa _ Fala me puxando para um abraço, me desfaço com seu afeto e desmorono em lágrimas. - Isso, chora, põe para fora tudo o que você está sentindo._ Me aperta um pouco mais a cada palavra.

- Acho que eu não faço mais parte da vida deles, no caminho para cá, olhei tudo no acampamento e me senti perdida, acho que esse não é mais o meu lugar._ Falo com medo de estar certa e não ser mais parte disso.

- E se eu te contar que todo dia eu sinto isso, você ficaria um pouco feliz? _ Diz dando risada e desfazendo o abraço.

- É, acho que sentir isso por um dia não é tão ruim assim, idiota._ Dou risada de Jasper, pois seu caos parece maior que o meu.

- Quer ir para a praia?_ Fala para me alegrar.

- Podemos comer alguma coisa antes?_ Digo olhando para o refeitório. 

- Ou podemos pegar algo e comer na praia...como um piquenique_ Diz com um olhar travesso, gosto desse Jasper.

- Então vamos._ O puxo em direção ao refeitório.

Alguns semideuses estão se preparando para o café da manhã, aproveitamos a distração causada por uma cantoria animada em grego para agradecimento da refeição. Pego um pedaço de pão, uma garrafa pequena com suco de uma fruta qualquer. Jasper enrola duas maçãs em um pano que estava sob os pães.  Saímos com pressa, porém com bastante cuidado para não fazermos barulho. Caminho em direção da praia do acampamento e Jasper me puxa para o lado contrário.

- Você está indo para o lado errado._ Alerto vendo ele se distanciar para as árvores. 

- Não estou, vamos para a praia que eu te encontrei._ Ele está louco? Não pode sair do acampamento, é perigoso.

- Mas ela é fora do acampamento _ Falo receosa.

- E que mal tem nisso ? _ Ergue a sobrancelha interrogativo. Penso que se ele não tivesse se arriscado não teria me encontrado, então aceito seu atrevimento como agradecimento por ter me salvado. 

Sereia GregaOnde histórias criam vida. Descubra agora