Caindo na Real

Capítulo 10 - Jantar Fora

Camila Cabello  |  Point of View

Depois de outra quase morte na academia com um instrutor que beira o nazismo, tomei um banho e fiquei esperando Lauren voltar da casa dela, ela e as meninas que prometeram me visitar hoje, estou ansiosa e com saudade de todas, mesmo que eu tenha as visto a pouco, sinto que aqui dentro o tempo demora mais a passar.

Mani cruzou a porta da sala de cinema e já abri um sorriso enorme, como convivia diretamente com ela, com certeza, é a pessoa que mais senti falta de conversar.

— Mila...

— E aí, Mani. Pensei que tinha me abandonado. – Ela negou e me abraçou apertado.

— Lógico que não, mas você me deixou uma firma inteira nas mãos, é complicado arrumar tempo e não perder tempo...

— Eu entendo como é, mas não foi perdido nenhum cliente?

— Não, estamos nos esforçando, subi o Shawn de cargo, mas todos os clientes perguntam pela Cabello mão de ouro. Tudo que ela toca vira potência comercial. – Eu corei.

— Nada disso, todos nós nos esforçamos muito para ajeitar as coisas.

— Todos sabem que você é a melhor daquela firma... você é a melhor da nossa cidade, Camila. Dispensamos vários clientes por safra, pois não damos conta de tantas pessoas querendo você como responsável técnica do empreendimento.

— Pare de me elogiar! Eu fico sem graça.

— E como estão as coisas por aqui?

— Os primeiros dias são um inferno, eu pensava em morrer o tempo todo, pois a dor é muito intensa, mas depois eu me acostumei com a dor.

— Acostumou?

— Sim. Nós nunca perdemos a vontade de usar ou a dor da falta dela, mas temos que nos acostumar.

— Sinto muito. Dinah me contou algo sobre Lauren voltar a visitar você.

— Pois é, ela terminou o noivado com o Zac porque me ama. – Ela ficou me analisando. — Eu já havia pedido para ela ficar aqui, para tentarmos antes de saber esse detalhe, mas logo ela me contou, acho que será muito mais fácil de convivermos. – Ela assentiu, mas não parecia feliz. — Você não gosta da ideia?

— Camila, eu não confio na Lauren, ela não me deu provas de que merece essa confiança e nem a sua, mas estou longe de querer me meter na sua vida pessoal ou interferir na sua felicidade. Espero que seu tratamento não fique de lado por conta da euforia da paixão.

— Não. Longe disso, não quero desfocar agora, preciso melhorar e ir para a casa do papai no interior. Eu preciso subir em um trator ou vou surtar. – Ela acariciou meu braço.

— Fico feliz por você, amiga. Espero não ter que dar uma surra na Lauren. – Eu sorri e a abracei forte.

— Eu a amo, Mani. Aquela garota sempre foi minha, você estava certa o tempo todo, eu devia ter ficado, devia ter lutado por ela e não seguir pelo caminho mais fácil.

— Mais fácil por um lado, pois passar por tudo que você passou, não é qualquer um que aguenta.

— Eu tive várias alucinações com a Lauren, por isso eu procurava mais, era tão real e ela sempre havia me escolhido. Ela estava grávida na primeira, de um garotão, eu me senti no céu, Mani. Eu tão ferrada com uma família, foi mágico, me senti plena, mas acordei. – Mani limpou uma lágrima que passeou por sua bochecha. — Depois eu estava em uma praia linda, devia ser no Caribe, quando eu fui para água escutei a voz dela me chamar, ela estava linda, cobrou por não esperar e estávamos noivas, ela me disse que eu a enrolava desde os quinze anos, aos dezoito eu a pedi em namoro. Você tem noção de quanto isso me soou perfeito, havíamos nos escolhido, não tinha ninguém, éramos nós duas desde sempre. Logo vocês estavam na água e meus pais chegaram com um menino, muito parecido comigo, ele me chamou de mama e pulou no meu colo. Novamente uma família feliz e uma Camila completa. – Agora ela estava chorando escorada na guarda do sofá e atenta a minha conversa. — E na última eu estava na lavoura, regulando uma semeadeira e de primeira deu a quantia padrão. Fiquei encantada e quando subi no trator, o garoto parecido comigo e devia ter quinze ou dezesseis anos, me chamando de mãe, dizendo que seria um grande agrônomo... foi mágico.