Capítulo 56 - A ajuda

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Camila Cabello  |  Point of View




Cheguei a clinica de reabilitação e iria acompanhar Jô em uma sessão, como prometi a ela, sempre que não trabalho
aos sábados, eu vou ajuda-la com os internos.

— Oi, Mila.

— Jô... estou moída.

— Suas olheiras me denunciaram isso.

— Ontem o Apolo ganhou um carrinho da Dinah, daqueles de bombeiro, faz uma barulheira, nossa... quase me atirei pela janela. – Ela gargalhou.

— Se você não estiver se sentindo bem...

— Estou. Faz algumas semanas que não apareço.

— Mas isso é bom porque sua firma está bombando.

— Muito. Eu tenho uma reunião com meu antigo chefe na segunda.

— Ele não faliu?

— Faliu. Disse que tem um assunto muito importante pra tratar comigo.

— Que estranho.

— Espero que ele vá sozinho, não suporto respirar o mesmo ar que aquele escroto.

— Eu estou curiosa, me liga assim que a reunião acabar.

— Claro. Vou fazer uma conferência, meus pais, meus sogros, Lauren, Dinah e você me pediram a mesma coisa. – Ela negou.

— Família grande é nisso que dá. – Ela pegou as fichas e me entregou. Comecei a analisar os perfis. — Tem mais três que a patrulha da igreja removeu das ruas, eles estão no culto e logo vão chegar aqui.

Para quem não sabe, religiosos distribuem comida para os drogados de uma região bem barra pesada da cidade, eles tentam todos os dias recuperar aqueles que já sucumbiram totalmente as drogas, em sua maioria, aqueles que usam crack.

— Três? Eles foram bem hoje.

— Fazia quatro meses que eles não resgatavam ninguém. Uma moça vai ser levada ao hospital antes de vir para cá,
ela foi abusada. – Meu peito apertou, é tão triste ver pessoas completamente vulneráveis por conta da droga.

— Podemos ir até a sala de reuniões. Já devem estar nos esperando. – Assenti.

Sentei ao lado de Jô, cumprimentei os que eu conhecia e observei Jô falar.

— Agora é a vez de vocês contarem o porquê de estarem aqui. – Ela disse e histórias começaram a ser contadas, histórias que doíam e me faziam chorar em sua maioria.

— Eu parava um dia e meu corpo dava sinais claros que não tinha como sobreviver sem. Uma amiga falou, eu fiquei anos sem usar e cheirei em uma boate para dar um gás, as tremedeiras e o suar frio vieram após algumas horas sem uso, ela disse que era psicológico, era rápido demais pra ter uma recaída... me senti fraco.

— Sua amiga está certa. Obviamente ela não levou você a sério, mas é psicológico, é ele que te faz querer usar mais e mais. Foi assim comigo, voltei a usar e em poucas horas já estava em abstinência. O meu cérebro demorou anos para esquecer aquela sensação e quando ele lembra, é pior... vem em dobro. Por isso se luta contra recaídas, é pior. Nos chamos fortes, pois sobrevivemos da primeira e que nada vai nos matar. Eu comecei na maconha e cheirei cocaína depois. Na minha recaída era direto na veia... primeiro ferrei meu nariz e depois foi direto na veia. Não somos fracos, todo dia é uma luta, eu tenho medo de sair em certos lugares... faz anos que não uso, mas tenho consciência que estou a um passo de usar sempre. Vai ser sempre assim, infelizmente. – Jô repousou a mão no meu ombro.

— Mas Camila está mais que bem. Ela não fuma e não bebe nada, tem uma família linda e mesmo com os efeitos da cocaína no organismo dela, tem um filho lindo.

— Ele é inteiro? – Uma mulher perguntou e eu assenti.

— Sim. Ele é perfeito, o maior presente que Deus me deu... na verdade, Deus me tem em alta conta, me ressuscitou cinco vezes e me presenteou com amigos maravilhosos, uma esposa incrível e um filho perfeito. Um emprego que sempre sonhei... eu realmente não precisava ter usado, mas quando me decepcionei fiquei cega. Eu não lido bem com certas emoções.

— Vocês devem se espelhar na Camila, ela se reergueu como há muito tempo não via ninguém se reerguendo e agora.usa o tempo vago dessa vida tribulada para ajudar vocês. Ajudar pessoas, pois só passando por situação parecida para ajudar vocês verdadeiramente. Por isso compartilhamos informações nessa roda, assim temos como nos corrigir e nos fortalecer juntos.

Os relatos recomeçaram e quando estava perto do meio dia, Jô deu por encerrada essa sessão.

Eles saíram e eu ajudei ela a recolher as fichas. Quando os gritos começaram, ela pediu licença e eu fiquei terminando de organizar a sala.

Os gritos eram dos novos internos, a maioria aceitar vir, mas quando chega aqui se arrepende, pois nesse tempo de culto e médicos o efeito da droga já passou. Ficam desesperados e tem consciência de que não vão ter mais dela aqui.

Caminhei pelo corredor até chegar ao quarto com guardas, um senhor... aparentava mais de quarenta, no outro
quarto um adolescente... eles já estavam banhados e recebiam uma medicação. Os gritos eram do quarto que estava fechado, Jô e os enfermeiros estavam do lado de fora.

— O que houve? – A mulher do outro lado da porta gritava muito. — Como diria a Ally... mas que pulmão!

— Ela está tendo um surto de raiva, parece que ela usou drogas no hospital, ela tinha escondido.

— Essa é a moça que foi violentada?

— Exatamente.

— Ela queria esquecer então. – Jô assentiu triste e a moça gritava muito. Olhei pelo vidro da porta e fiquei em choque.

— Camila... você está branca. – Não pode ser... parece tão velha.

— O que ela estava usando?

— No hospital foi heroína, mas ela estava no crack. – Tentei entrar mais estava trancada.

— Abre aqui pra mim.

— Não, Camila, ela está muito violenta.

— ABRE LOGO ISSO. EU A CONHEÇO. – Berrei e o enfermeiro pegou as chaves rapidamente.

— É perigoso, Mila. – Jô disse e eu assenti.

Entrei na sala e a ela voou em mim. Aproveitei e a coloquei no meu ombro, enquanto ela socava minhas costas, eu
a levei para o chuveiro, liguei no gelado e a coloquei sob ele.

— Sou eu... Camila. Camila... lembra-se de mim?

Ela me encarou... ficou me encarando por um bom tempo... ela me abraçou, achei que tivesse me reconhecido, mas ela tentou me estrangular. Ela não vai me reconhecer até o efeito passar.

Jô aproveitou que a água gelada a acalmou um pouco e a dopou, a enfermeira deu um banho nela e eu fui para casa, deixando Lauren preocupada por ter chegado toda molhada.


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