A Princesa Aprisionada

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Em Asgard-Baixa, que era como se conhecia a região além dos muros da fortificação onde ficava o Palácio Valhalla, era onde os miseráveis moravam. Onde a fome arrasava as famílias e levava, dia após dia, os mais velhos, bem como os recém-nascidos, naquele que era sem dúvidas o inverno mais rigoroso de sua história.

Os ventos cortantes e gélidos por vezes davam uma trégua e a população saía às ruas para trocar, buscar ajuda uns dos outros, jogar-se nas tavernas ou implorar misericórdia nos templos e santuários da região. No centro de uma praça abandonada de suas barracas, a população juntava-se para receber uma quantia insuficiente de pão e hidromel que vinha das fazendas distantes ou até mesmo do estoque palaciano. Não havia balbúrdia ou confusão, apenas a silenciosa aceitação de um povo que sabia muito bem seu destino naquela Terra.

E enquanto a multidão acotovelava-se na fila e então espalhava-se pela praça para falar aos conhecidos ou até mesmo rir de algum conto antigo ou inventado, uma música doce e bela espalhava-se por toda a praça, tocada por um exímio violinista que, sentado no telhado de um alto coreto, tocava as tristezas deles todos.

Assim que a distribuição da comida acabou-se, os homens e mulheres espalhados na praça lentamente calaram-se para escutar aquele lamento lindo que o violino cantava; sua voz aguda, suas notas precisas e longas, enquanto o rapaz de longos cabelos claros, mas sujos, tocava seu violino nórdico sem dizer uma única palavra, pois os solfejos de seu instrumento eram suficientes para que ninguém tivesse dúvida da dor que lhe calava no peito, pois era dor comum a todos ali.

A multidão silenciosa, no entanto, aos poucos foi tomada por um burburinho entre todos, pois entre eles havia um estrangeiro. Aquele era um povo abandonado e, portanto, não recebiam turistas ou visitas; era raríssimo que a única estrada de sua entrada recebesse qualquer comitiva, principalmente em um inverno terrível como aquele, de modo que aqueles que ali não viviam facilmente se destacavam. E aquele estrangeiro até tentava esconder sua identidade debaixo de uma túnica e um capuz escuro.

A multidão afastou-se dele e formou-se uma clareira com uma única figura no centro, um estrangeiro que era muito menor que os habitantes daquela região inóspita. O violinista parou de tocar sua melodia e olhou para aquela figura curiosa; sua voz era grave, embora tivesse o rosto delicado e um instrumento brilhante.

— Quem está aí?

Todos os olhos estavam sobre aquela figura, que parecia mesmo uma criança perto de todos eles. Sua voz soou doce debaixo do capuz:

— Quero ver o representante de Asgard. Venho de muito longe. — respondeu o intruso em língua-comum, sem compreender exatamente o que o violinista lhe havia perguntado.

— E quem devo levar diante de nossa representante? — perguntou o violinista no idioma que o rapaz pudesse compreender.

O estrangeiro tirou o capuz e respondeu com seu nome, revelando-se a todos.

— Meu nome é Shun.

O violinista desceu daquele alto telhado graciosamente e pousou à frente do garoto; ele era um pouco maior que Shun e olhou-o profundamente nos olhos. Os olhos doces e sua face tranquila transpareciam exatamente aquilo que Shun era, um visitante pacífico. Assim como era aquele músico que, assim como Shun, também tinha um rosto doce e tranquilo, embora sua voz fosse muito mais grave. Ele guardou seu violino harpinger às costas, o arco na cintura e pediu que Shun o acompanhasse.

Sob os olhos curiosos daquela população sofrida, mas com um pedaço de pão para levar de volta para casa, o violinista escoltou o estrangeiro pela rua principal até o passadiço da fortificação da cidade alta, onde as pedras por onde andava eram até diferentes e mais refinadas. Mas a verdade é que a fome e a miséria também não haviam poupado aqueles que ali viviam, embora fossem poucos, eram poucos também esfomeados e miseráveis como aqueles que viviam além do passadiço.

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora