101 - Cartas do Norte

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As celas de Asgard remontavam, talvez, aos seus períodos áureos, mas como tudo o mais, estavam também paradas no tempo; as pedras cheias de limo, as goteiras eternas erodiam o chão aos poucos, as trancas de celas todas enferrujadas, o teto muito alto e escuro, pois a cela redonda ficava em uma torre com aberturas muito acima das cabeças de seus prisioneiros, por onde a chuva congelante encharcava o local em dias de intempéries.

A porta da cela abriu-se com um enorme clangor e o conselheiro de Hilda caminhou para dentro daquele lúgubre lugar onde o prisioneiro estava atado pelas mãos em algemas preciosas, mas presas às paredes opostas e muito altas, de forma que ele parecia pendurado pelos braços abertos.

Aquele prisioneiro era um Cavaleiro de Atena.

A visita trancou a porta atrás de si e o garoto levantou os olhos inchados para ver diante de si um rapaz que tinha uma franja ruiva sobre um dos olhos; uma roupa que parecia remontar a qualquer tipo de nobreza, um brinco na orelha e um elmo na mão.

— Qual seu nome e o que veio fazer aqui? — perguntou a voz do rapaz em língua-comum.

— Onde está Jamian? — tornou o Cavaleiro de Atena de seu lado.

— Jamian? — perguntou Alberich.

— O Cavaleiro de Corvo!

— Seu amigo está muito bem cuidado, preso como você em algumas das muitas celas de Valhalla.

Ele debateu-se nas algemas de ametista, mas então nada podia fazer contra o feitiço que lhe prendia as mãos.

— Estão vivos, que é o máximo que podemos fazer por invasores como vocês. — continuou Alberich. — Pois se não cooperarem, receio que os Guerreiros Deuses de Asgard o deixarão aqui até que seus corpos desçam ao Helheim. Compreende o que digo? Até que finalmente morram.

— Droga...

O Cavaleiro de Atena não podia acreditar que ele e Jamian estavam presos em um lugar como aquele, em que seus Cosmos de nada valiam; odiou-se, pois a princípio foram recebidos de braços abertos apenas para serem rendidos e afastados de suas Armaduras em uma batalha sangrenta que havia terminado com ambos os corpos sendo levados aos calabouços de Valhalla.

— Por que fazem isso?!? — tornou a perguntar o Cavaleiro.

— Vocês invadiram nossas terras. É o que acontece aos invasores de Asgard.

— Viemos em paz! — gritou o garoto.

O guarda não lhe respondeu.

— Qual é o seu nome? — tornou Alberich, mas o garoto não lhe respondeu.

O rapaz na escuridão aproximou-se do menino com um candeeiro que iluminou o rosto ferido do garoto: seus olhos claros, seus cabelos manchados de sangue, mas carregando ainda a cor do sol do norte, o sotaque carregado. Alberich mostrou para ele o elmo que trazia na mão, um brilhante, embora muito rachado, elmo de bronze branco e azul na forma de uma linda ave de asas abertas. Sua voz era quase sussurrada tão próximo do Cavaleiro.

— лебедь.

Os olhos do garoto abriram-se surpresos e ele encarou o único olho de Alberich, verde-claríssimo.

— É o Cavaleiro de Cisne, não é verdade? — perguntou Alberich em russo, surpreendendo Hyoga.

Ainda que estivesse curioso, Hyoga manteve-se calado, quando foi finalmente surpreendido uma última vez pela astúcia de Alberich.

— Você é Hyoga de Cisne, o Cavaleiro do Santuário.

Os olhos de Hyoga acusaram e finalmente deram a certeza que Alberich precisava e o rapaz levantou-se, colocando-se de costas para Hyoga e deixando o candeeiro em uma mesa próxima. Ele respirou fundo e retornou para perto de Hyoga.

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora