Um Conto de Amor e Mar [História Lateral]

20 1 0
                                    

"Longe no oceano, onde a água é tão azul quanto a mais bonita centáurea, e clara como cristal, ela também é muito, muito profunda; tão profunda, de fato, que nenhum homem jamais poderia atingir a sua profundidade. Montanhas empilhadas umas sobre as outras não chegariam do solo abaixo à superfície da água acima. Lá moram o Deus dos Mares e seus súditos. Não devemos imaginar que no fundo do mar não há nada além de areia amarela. Não, de fato ali crescem as flores e plantas mais singulares, cujas folhas e caules são tão flexíveis que a menor agitação da água faz com que se mexam como se tivessem vida. Peixes, grandes e pequenos, deslizam entre os galhos, como pássaros voam entre as árvores aqui na terra. No ponto mais profundo de todos, fica a cidadela do Deus do Mar. Suas paredes são construídas de coral e jade, e as longas janelas são do mais claro âmbar. O telhado é formado por conchas que se abrem e fecham conforme a água corre sobre elas. Sua aparência é muito bonita, pois em cada uma delas está uma pérola brilhante, que seria adequada para o diadema de uma rainha."

O jovem garoto fechou o seu livro favorito logo no primeiro parágrafo, pois escutou seu nome sendo chamado ao longe. Era dia de seu aniversário de seis anos, mas a festa que seus pais organizaram para ele estava longe de ser colorida e fantástica como ele gostaria que fosse. Não havia outras crianças com as quais correr, brincar de ciranda, se molhar no mar, se esconder ou até se machucar sem querer.

— Já vou! — gritou ele de volta, com a cara fechada enquanto resmungava. — Num tem nada de legal pra fazer e eu não posso nem vir aqui brincar.

Havia apenas adultos na festa, todos eles muito bem vestidos e cada um com uma taça de uma bebida que não deixavam ele tomar. Entediado, ele foi para o seu quarto brincar sozinho; e embora tivesse todos os brinquedos de última geração, seus favoritos eram aqueles que as criadas da casa lhe traziam. Como aquele velho livro surrado e mordido nas pontas.

Além dos presentes simples que ele guardava ali no sótão onde dormia, o garoto lembrava-se também das histórias fantásticas que as criadas lhe contavam enquanto cuidavam de seu banho, trocavam-no as roupas sujas de areia, davam-lhe de comer pelo dia ou ajudavam-no com as lições de matemática. Tudo que ele fazia era dentro daquela mansão, pois morava muito longe da cidade com seu pai. De modo que ele passava o dia ouvindo as músicas e histórias do alto-mar que lhe contavam; sobre como os peixes do oceano falavam entre si, como as cores das florestas do mar eram diferentes daquelas que havia na terra, como havia cidadelas em que se podia respirar embaixo do mar e muitos outros contos antigos. O pouco de carinho que tinha sem dúvidas que era graças a essas cuidadoras e cuidadores da mansão.

Deixou o livro em cima de uma pequena pilha de outros livros em sua cabeceira e desceu os degraus de volta ao saguão para ser celebrado por algum velho convidado de seu pai que havia acabado de chegar na mansão. Seu pai era um homem muito famoso, pelo menos ele imaginava, pelo tanto de pessoas que o adoravam e o bajulavam naquela mansão quando eram convidados. Dono de um enorme conglomerado marítimo, não faltava nada ao garoto, filho de uma família riquíssima.

Logo foi abandonado pelos adultos, que foram para o salão comer as comidas esquisitas da festa, deixando o garoto novamente sozinho; ele voltou para a escada, doido para se esconder no quarto com seus brinquedos, mas uma das cozinheiras colocou-se na sua frente enquanto equilibrava uma bandeja com uma mão e tinha a outra na cintura.

— Não, não, menino, vai pra festa, que seu pai pediu pra não deixar você subir.

— Ah, Dona Irina.

— Nem 'a' nem 'bê'. Vai, garoto.

E, resmungando, ele voltou para o salão sem ser visto por nenhum dos adultos bem vestidos; caminhou entre as pernas enormes daqueles homens e mulheres e saiu pela enorme varanda que dava na faixa de areia. Lá colocou a carinha entre as madeiras da sacada para ver o fim de tarde morrendo na praia; as ondas tranquilas indo e voltando contra um paredão de pedra à direita.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 28, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de SeiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora