Os aristocratas da alta corte de Asgard, geralmente de famílias antigas e outrora muito ricas, cada qual tinham o que chamavam de retiro nas florestas. Um casebre humilde, mas afastado das agruras da cidade, em que a fome e o desespero varriam tanto aqueles mais abastados, mas principalmente os miseráveis. De tal forma que naquele ano do senhor Odin, já não importava mais de que lado do passadiço da fortaleza você morasse: era certo que passava fome e orava à noite pedindo clemência ao Pai de Todos.
Alguns anos antes daquela crise invernal que tomava Asgard, no entanto, a região encontrava paz dentro de seus muros e, embora o inverno fosse sempre rigoroso, ao menos não havia escassez de comida para seu povo. Uma jovem Princesa Freia sentava-se em uma fonte congelada em frente ao retiro de sua família, com quem frequentemente dividia os passeios com sua irmã Hilda.
— Me desculpe, mas você deveria voltar para o seu quarto, Princesa Freia. — falou ao seu lado Hagen, também mais novo, magro e já muito alto, como espichado na adolescência.
Ela o olhou ao seu lado, sua tez mais morena do que o povo do norte, seus cabelos queimados por um sol que ali não existia. A fonte na forma de cavalos inteira coberta de gelo, que a Princesa tentava raspar com as mãos retirando placas e quebrando pequenas estalactites que haviam se formado. Ao ver que não poderia fazer tanto pela fonte tomada pelo gelo, ela sentou-se no banco de pedra próximo à ela.
— Hagen, alguma vez já desejou ter nascido numa terra verde e fértil banhada pelo sol?
Seus olhos eram tristes olhando para a neve que cobria o chão e a pergunta surpreendeu o jovem Hagen ao seu lado. Mas talvez por educação e decoro diante dela, Hagen não ousou responder àquela pergunta, de modo que Freia continuou como se falasse sozinha.
— Não é natural, Asgard possui um clima tão inóspito que tira a nossa liberdade e faz nós todos sofrermos. Às vezes eu me pego sentindo ódio pela nossa terra-natal, que nos impõe tantos sacrifícios. Você nunca se sentiu assim? — perguntou ela finalmente para ele.
— Princesa Freia, eu... — mas o garoto parecia hesitar, com medo de maldizer e sofrer consequências maiores daquela terra.
O jovem Hagen, entretanto, manifestou ao redor de si uma aura clara, como se o seu corpo sublimasse o ar frio ao seu redor, feito um gelo fumegante e seco. Mas era também brilhante e, ao seu lado, Freia sentiu certo calor chegar em sua face sempre gélida. Com um movimento de sua mão, o jovem garoto derreteu todo o gelo que cobria aquela fonte tão querida por Freia, transformando-o em pura sublimação no ar.
A Princesa lhe sorriu de volta ao ver que a face de Hagen não mais era iluminada por aquela sublimação ao redor de seu corpo.
— Eu apenas quero estar ao seu lado. — falou ele seriamente.
Ela apertou o sorriso no coração e os dois juntos ouviram os passos de alguém na neve se aproximar do casebre de madeira do retiro usando seu bonito vestido azul-claro e seus cabelos quase-brancos soltos ao vento: era Hilda, sua delicada irmã.
— Ora, Freia, não amole assim o pobre Hagen. — disse ela com o sorriso mais doce e fraterno do mundo no rosto.
Hilda, que mesmo muito nova já era a responsável pelo povo de Asgard, juntou-se aos dois no banco de pedra.
— É um lindo seidr esse que seu coração manifesta, Hagen. — disse ela sobre aquela estranha energia do garoto.
— Tenho treinado muito, Senhorita Hilda. — justificou ele.
— Veja, irmã. — apontou Freia para três iniciais toscamente riscadas na perna dos cavalos da fonte que reapareceram quando Hagen as descongelou.
Duas delas eram precisamente as iniciais de seus próprios nomes, mas havia entre elas uma terceira letra no idioma antigo de Asgard que fez as duas emudecerem brevemente de tristeza.
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Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya
FanfictionReimaginação da história de Seiya de Pégaso, escrito e narrado com alterações na história. Arte da Capa: Tiago Fernandes (@tfernandes)